segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O grande derrotado da Guerra ao Terror e a instabilidade sistêmica

Em artigo publicado no site da rede BBC, o jornalista paquistanês Ahmed Rashid afirma: o resultado de 10 anos de aliança do governo do Paquistão e os Estados Unidos na Guerra ao Terror é uma crise sem precedentes no país.

Rashid chama a atenção, em especial, para três pontos: o fortalecimento do setor militar em detrimento do controle civil e político, a intensificação dos conflitos internos e os graves problemas econômicos. Segundo o jornalista, os paquistaneses estão esperando o pior: isolamento internacional, anarquia interna, guerra civil ou  golpe de algum grupo islâmico radical. Some tudo isso à capacidade nuclear reconhecida das Forças Armadas do Paquistão e é possível ter uma idéia do problema.

No que diz respeito à economia, Rashid conta que a violência e a alta inflação hoje no país atrapalham os investimentos, gerando inclusive fuga de capitais da classe alta paquistanesa. "Mesmo que o Paquistão tenha recebido US$ 20.5 bilhões de ajuda norte-americana desde 2001, cerca de 70% desse montante foi parar nas mãos dos militares", escreveu o jornalista. "Gastos com educação e saúde despencaram dramaticamente. Desde que chegou ao poder em 2008, o Partido do Povo Paquistanês não tem conseguido oferecer práticas positivas de governância e vem sofrendo com escândalos de corrupção", completou.

Sobre os militares, Rashid afirma que eles controlam a política externa paquistanesa com relação à Índia, aos Estados Unidos e ao Afeganistão, consomem 30% do orçamento federal e possuem várias agências de inteligência que atuam sem qualquer controle do governo, do Parlamento ou das cortes paquistanesas. Há suspeitas, inclusive, de que muitos agentes atuam sem controle até mesmo da cúpula militar paquistanesa. Neste momento, por exemplo, os Estados Unidos afirmam que setores da poderosa ISI (Inter-Services Intelligence), a principal agência militar de inteligência do Paquistão, estão dando apoio ao extremista afegão Jalaluddin Haqqani, que ataca forças norte-americanas no Afeganistão.

Ao mesmo tempo, os conflitos étnicos e separatistas também se fortaleceram nos últimos dez anos. Como afirma Rashid, "o uso do islamismo radical pelos militares e políticos na condução de objetivos e agendas de política externa em relação à Índia e no Afeganistão se voltou contra o próprio Estado, gerando um movimento radical interno, o Talibã paquistanês, que hoje ataca brutalmente civis e militares pelo país".

O jornalista é categórico: "Não há dúvidas de que o Paquistão tem sofrido imensamente por ter se tornado parceiro da guerra dos Estados Unidos no Afeganistão". E completa: "Change can only start coming about when the war in Afghanistan ends".

Com tantos problemas, cujas soluções parecem impossíveis de serem deslumbradas, não é à toa que se percebe hoje no ambiente internacional uma mudança clara de posicionamento relativo e estrutural. Mas antes que alguém comemore, vale lembrar que transformações desse tipo costumam causar períodos longos de instabilidade e grandes, para não dizer trágicas, conseqüências.

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