sábado, 25 de maio de 2013

22o Compós

O XXII Encontro Anual dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós) foi realizado na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, de 4 a 7 de junho de 2013. Veja os trabalhos apresentados no GT de Comunicação e Política.

JORNALISMO E POLÍTICA EM PAUTA: Tensões entre interesses públicos e privados no debate sobre a criação da Empresa Brasil de Comunicação Edna Miola, Rousiley Celi Moreira Maia.

Insegurança, (re)partidarização e "fogo amigo": a economia política dos meios na Era Lula Fernando Lattman-Weltman; Viktor Chagas

A parte que me cabe nesse julgamento: a Folha de S. Paulo na cobertura ao processo do "mensalão"Flávia Millena Biroli Tokarski, Denise Mantovani

Representação parlamentar no Twitter: uma abordagem quantitativa
Francisco Paulo Jamil Almeida Marques, Jakson Alves de Aquino

Os discursos articulados da democracia (entre o econômico, o político e o social) Isabel Cristina F. Villela

As vozes gritadas na eleição 2010: o discurso direto na disputa presidencial
Lorena Marina dos Santos Miguel, João Feres Júnior, Eduardo de Figueiredo Santos Barbabela e Oliveira, Anaily Mafra, Ingrid Peregrini, Renata do Nascimento Silva

O inferno são os outros: mídia, clientelismo e corrupção
Pamela Araujo Pinto, Afonso de Albuquerque

Deslizes morais na cena midiática: reprodução da intolerância ou oportunidade para novas gramáticas morais? Regiane Lucas de Oliveira Garcêz, Danila Gentil Rodriguez Cal

Reportagens com denúncias na imprensa brasileira: análise de duas décadas da predileção por mostrar problemas Solano dos Santos Nascimento

QUEM ESTÁ NO CONTROLE? Um estudo sobre as entrevistas com os candidatos à Presidência da República transmitidas nos telejornais da Rede Globo durante as eleições de 2010 Wilson Gomes, Fernanda Soares Pereira

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Political Journeys II

Reflexões sobre o problema da representação política e as tecnologias digitais.

Um dos problemas mais comentados da teoria contemporânea da democracia é o da representação política. O tema é campo de inúmeras interpretações, dependentes, inclusive, do conceito de representação que se utiliza. Há representação quando se "fala por alguém", quando se "substitui alguém", quando se "atua no lugar de alguém", quando se "atua em nome de alguém", quando se "decide por alguém" etc. Há representação delegativa, deputativa, legal, participativa, responsiva, direta, formal, especial, substancial, simbólica, elitista, descritiva, que proporciona mediação política, relação diferenciada, interação, prestação de contas, autorização, seleção, dominação.

Quando a democracia talvez se encontre no seu melhor momento, parece haver, entre outros problemas, uma crise (de legitimidade?) em torno da representação política nas democracias representativas contemporâneas, alimentada por questionamentos acerca da representatividade dos políticos em relação ao cidadão e à sociedade, que, no Brasil, na maior parte das vezes diz respeito ao Congresso Nacional. Pois, nesse contexto, a teoria faz a pergunta: se a representação é necessária – o que os participacionistas defensores da democracia direta não concordarão –, como fazer para que a representação seja, afinal, mais representativa?

Nesse contexto, um dos problemas mais notórios da democracia representativa brasileira, parece claro, é o descolamento entre o político e o cidadão, com a exceção dos momentos de campanha e eleição. Além disso, como se sugere, há muito pouca transparência e visibilidade pública do que acontece realmente dentro dos espaços (públicos) representativos, herméticos, provedores de informação e linguagem pouco acessíveis. Ao mesmo tempo, há um problema na comunicação pública quando a mídia de massa tradicional, sustentada na lógica comercial e algum problema estrutural, como a concentração, por exemplo, não parece cumprir o papel de mediação que lhe caberia.

Como se não bastasse, os partidos parecem também afastados do cidadão. Poucos se filiam, muitas vezes por não acreditar nos próprios partidos.No mesmo sentido, poucos participam, e as filiações parecem mais sindicatos profissionais de militantes que instituições público-partidárias.

O equívoco, no entanto, é achar que existe um sistema perfeito. A democracia não é e nunca será um sistema perfeito, mas é um sistema que permite às pessoas questionar e modificar o sistema.

No campo da representação, a internet tem sido apontada como um ambiente que apresentaria potencial de intensificar os processos representativos em regimes democráticos, mas é preciso ter em mente que a internet não vai resolver o problema da representação.

Um dos pontos centrais deste debate é o fato de que a representação política é um conceito metafísico, que na maior parte das vezes é pensado a partir de categorias metafísicas. Ora, noções como as de "interesse público", "opinião pública", "interesse do eleitorado", que fariam ligação, ao menos teoricamente, com o representante e suas ações, são conceitos generalizadores, violentos contra identidades, valores e interesses múltiplos que as sociedades contemporâneas abrigam. Talvez seja preciso hoje pensar realisticamente a representação política em um mundo pós-metafísico.

Isso significa refletir a partir do pressuposto de que as categorias não se fixam no tempo – o que foi, já não é mais – e que a representação política é um problema sem solução. O mais importante, na verdade, é que a conversa não seja interrompida.

Como pode contribuir a internet? Talvez a partir da multiplicação de vínculos comunicativos públicos, de preferência não-estatais, entre a sociedade e o representante, com produção de informação política cidadã não-comercial, a criação de espaços deliberativos e argumentativos, o incremento da transparência.

Com relação à visibilidade pública, que se mantém presa aos tradicionais grandes meios de massa, este pode ser um desafio, bem como a ecologica cognitiva da internet e suas limitações sobre a construção das subjetividades.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Brasileiro enfrentará comércio estagnado no comando da OMC

Vitória na disputa pela direção-geral da Organização Mundial do Comércio traz a oportunidade de o país refletir sobre sua inserção no mercado global.

A vitória confirmada na terça-feira (07/05) do diplomata brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo na eleição para o cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio traz, entre outros benefícios, uma boa oportunidade para o país refletir sobre sua inserção no mercado global. Afinal, por que mesmo queremos um brasileiro no comando da OMC?  Este talvez tenha sido um debate abafado pela cobertura da imprensa tradicionalmente ufanista em demasia nesses casos. Ora, entre as 10 maiores nações industriais do planeta mas com restrições históricas ao comércio internacional, o Brasil participa hoje com menos de 1,5% das exportações mundiais e menos de 1,3% das importações.

Mas não somente o contexto político cultural interno informa os desafios que Azevêdo terá pela frente. Como foi publicado recentemente neste Blog, relatório divulgado há poucas semans pela OMC mostra que o comércio internacional cresceu apenas 2% em 2012 e sua elevação deve ficar pouco acima dos 3% em 2013. Ambos os índices estão bem abaixo da média dos últimos 20 anos, 5.3%, e mais baixos ainda que o nível médio de crescimento das trocas internacionais no contexto pré-crise, de 6%, entre 1990 e 2008.

Segundo a organização, os índices apresentados mostram que os "problemas estruturais da economia internacional" revelados pela crise do período 2008/2009 ainda não foram atacados. Na verdade, seria difícil esperar números muito diferentes quando as grandes nações comerciais do planeta estão de fato em crise desde então, algumas delas, como o Japão, por exemplo, há ainda mais tempo. Não à toa, o primeiro-ministro Shinzo Abe lançou também recentemente mais uma tentativa do governo japonês, apelidada de "abenomics", de combater 15 anos de recessão e deflação na terceira maior economia do mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, como sugere o relatório da OMC, incertezas renovadas sobre o euro tiveram impacto sobre as importações da União Europeia, que se apresentaram em queda em 2012 em relação ao ano anterior. A Europa, que votou em peso contra o brasileiro, é o maior centro exportador e importador do planeta. O comércio intra-europeu movimenta mais de US$ 4,5 trilhões e a UE como bloco ainda negocia externamente outros US$ 2 trilhões. Chineses vendem US$ 2 trilhões de dólares ao mundo e os americanos, US$ 1,5 trilhão. Os Estados Unidos compram mais de US$ 2 trilhões no mercado global, a China, em torno de US$ 1,7 trilhão.

Nesse sentido, não há dúvida de que a queda no comércio intra-europeu influenciou os resultados de 2012, como diz o relatório da OMC. Se tudo der certo, a expectativa é a de que o crescimento do PIB mundial e do comércio internacional volte à média dos últimos 20 anos somente no fim de 2014.

"Na medida em que a crise da economia global persiste, pressões protecionistas ganham força e podem se tornar eventualmente insuperáveis. A ameaça do protecionismo pode ser maior agora que em qualquer momento desde o início da crise", afirmou o atual diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, na ocasião da divulgação do relatório e em tom de despedida.

"Para nos prevenirmos de um ciclo autodestruidor de nacionalismo econômico, os países devem voltar suas atenções para o sistema multilateral de comércio. O comércio internacional deve ser motor do crescimento econômico e não termômetro da instabilidade global", ressaltou.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Cidadania na era digital

Relatório divulgado pelo Pew Research Center mostra forte crescimento no uso das redes sociais para a atuação política nos Estados Unidos. Além disso, que a disparidade entre mais e menos educados na participação se eleva no ambiente online.

No último 25/04, o Pew Internet and American Life Project, ligado ao Pew Research Center, divulgou um relatório sobre o engajamento político "na era digital". Os resultados da pesquisa feita entre julho e agosto de 2012, nos Estados Unidos, sobre a participação política do cidadão americano nos 12 meses anteriores, mostram que a internet, em especial as redes sociais, tem sido cada vez mais utilizada para a atuação política. No entanto, mostram também que a exclusão digital será um dos grandes desafios dos regimes democráticos nas próximas décadas.

Segundo a pesquisa, houve um crescimento expressivo, nos Estados Unidos, da atividade política nas redes sociais entre 2008 e 2012. Em primeiro lugar, o número de usuários dessas ferramentas passou de 33% para 69% da população online americana (240 milhões de pessoas ou quase 80% da população total do país). Em 2008, 11% dos usuários (ou 3% da população adulta americana) disseram que utilizaram essas ferramentos para publicar algo relacionado à política. Em 2012, 28% (ou 17% da população adulta) disseram que publicaram links para reportagens ou artigos políticos e 33% (ou 19% da população adulta), que postaram outros tipos de conteúdo político nas redes.

Da mesma forma, em 2008, 12% dos usuários das redes (3% da população adulta) seguiam algum candidato político nesse ambiente. Em 2012 esse número chegou a 20% (12% da população adulta). Além disso, em 2008, 13% dos usuários (3% da população adulta) iniciaram ou se juntaram a algum grupo nas redes sociais que atuava em temas políticos ou sociais. Em 2012, a proporção foi de 21% dos usuários ou 12% da população adulta. Talvez ainda mais importante, 43% dos usuários das redes sociais disseram à pesquisa que decidiram se informar mais sobre um tema político ou social a partir do que leram nesses sites e 18% afirmaram que decidiram se envolver mais em algum tema político ou social depois que leram algo sobre esse tema nas redes sociais.

Segundo o relatório, 39% da população adulta americana ou 66% dos usuários das redes sociais fizeram algum tipo de atuação política nesse ambiente entre julho/agosto de 2011 e julho/agosto de 2012. Coisas como "gostar" ou promover material relacionado à tema político ou social postado por outros usuários (38% dos usuários das redes sociais ou 23% da população adulta), encorajar outras pessoas a votar (35% dos usuários ou 21% da população adulta), publicar seus próprios pensamentos ou comentários sobre assuntos políticos ou sociais (34% dos usuários ou 20% da população adulta), responder ou comentar alguma publicação sobre tema político ou social (33% dos usuários ou 19% da população adulta), incentivar outros a se engajar em tema político ou social (31% dos usuários ou 19% da população), publicar links para reportagens sobre temas políticos ou sociais (28% dos usuários ou 17% da população adulta), participar na rede de algum grupo envolvido em causa política ou social (21% dos usuários ou 12% da população adulta), seguir um político eleito ou candidato (20% dos usuários ou 12% da população adulta).

Em resumo, a pesquisa analisa o engajamento cidadão nos Estados Unidos a partir de quatro conclusões. A primeira afirma que 49% dos adultos entrevistados fizeram parte diretamente de um grupo cidadão ou de uma atividade cidadã nos 12 meses anteriores à sondagem, realizada em julho/agosto de 2012. A segunda, que 39% dos adultos entrevistados contactaram políticos eleitos ou administradores públicos ou se manifestaram em algum fórum público no mesmo período. A terceira sugere que 34% fizeram as mesmas ações mas por meio de plataformas e ferramentas digitais. A quarta, que 39% dos adultos entrevistados fizeram algum tipo de atividade política ou cidadã com a utilização específica das redes sociais.

Apesar do efeito democratizante da internet que consta do relatório, a pesquisa também mostra que atividades políticas continuam a ser em boa parte um privilégio de indivíduos com grau de escolaridade mais alto e em situação financeira melhor, no ambiente online ou não. No terreno das redes sociais, no entanto, a disparidade no que diz respeito à renda vem se apresentando mais modesta, mas aquela referente à escolaridade tem se mostrado mais grave que fora da internet.

Ou seja, a se confirmar a tendência de crescimento das atividades políticas online, vem aí, como já se imaginava, mais um problema para a democracia, a exclusão digital. Em especial, para a democracia nos países com baixos índices de escolaridade e pouca qualidade na formação, como o Brasil.