sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mídia e política nas eleições 2010

Um dos fenômenos recentes mais apontados na literatura de comunicação e política são as sucessivas derrotas do candidato apoiado pela mídia nas últimas eleições brasileiras. Os debates que giraram em torno do regime militar, da eleição de Tancredo Neves, da articulação que deu posse a Sarney; da eleição e destituição de Fernando Collor;  do apoio ao Plano Real e ao projeto político do presidente Fernando Henrique Cardoso; do papel da mídia (ou mídia hegemônica) na composição de Lula com a manutenção macroeconômica, em 2002, representada na "Carta aos Brasileiros"; agora ressaltam o apoio relativo em graus e níveis diferentes a Serra, em suas duas derrotas, 2002 e 2010, e a Geraldo Alckmin, vencido em 2006. De uma hora para outra, os pesquisadores que haviam declarado que a mídia faz e desfaz um presidente no Brasil, passaram a desconfiar da premissa.

Não há dúvidas da mudança, para o bem de todos. A comunicação e a comunicação política no Brasil se complexificou simultaneamente à sociedade desde 1989. A comunicação midiática é mais difusa tanto pelo relativo aumento da concorrência no mercado, talvez função de tecnologia acessível e barata, quanto pelo aparecimento de novos canais que se chocam com o problema crônico do controle excessivo e concentrado da distribuição cultural no país. Produz-se muito, mas pouco chega com facilidade ao cidadão ou consumidor, a depender da perspectiva. Nesse contexto específico, pode-se apontar um benefício potencial da internet para a sociedade brasileira.

De fato, percebe-se já, no mundo político, a instauração de numerosas esferas de conflito comunicacional, de influência política diversificada e mediadas por instituições de identidade política diferenciada, colocando em pauta temas e fatos da política e gerando enquadramentos. Como comentam alguns pesquisadores, a Presidência Lula foi pródiga, por exemplo, em aumentar os canais de comunicação do governo central com veículos menores espalhados pelos municípios brasileiros, com comunicação interna e anúncios.

No entanto, a redução, digamos, do "poder" da mídia não encerra a questão. Algumas pesquisas, por exemplo, clamam a influência relativa da mídia na incidência de segundo turno ao menos nos pleitos de 2006, quando esteve muito relacionada ao "caso mensalão", e 2010, com o "caso Erenice". A "mídia" não deixa o processo de significação da realidade.

Com isso, talvez o momento seja de repensar o próprio conceito de mídia e uma velha questão epistemológica. Afinal, a "mídia" não pode se resumir a um punhado de grandes veículos e o alcance das pesquisas é inversamente proporcional à complexificação do ambiente midiático. Dessa forma, hipóteses, conclusões, resultados, nesse contexto, devem ser mais pontuais e menos ambiciosos. Mas não é isso que a crítica (filosófica, epistemológica e ontológica) ao positivismo, à objetividade, ao generalismo, ao materialismo, ao mecanicismo e à prevalência do cálculo racional individualista nos modelos explicativos afirma há mais de 50 anos, para não ir muito longe?