sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Música do Mundo Podcast - Dezembro de 2010

Bem-vindo ao Música do Mundo Podcast, edição de dezembro de 2010. O programa deste mês tem em torno de 22 minutos, pesa 29 megabytes e está no formato mp3. Seu download dura menos de 5 minutos. Como sempre, a dica para baixar o arquivo é utilizar o botão direito do mouse, no PC, ou o 'control+mouse', no mac, e pedir o download. Para ouvir, basta clicar.


O programa deste mês está em clima de fim de ano. Começa com "O Filósofo", de Jorge Ben, do disco clássico África Brasil, de 1976. Em seguida, outro clássico, "Evil Ways", do guitarrista mexicano Carlos SantanaDepois, uma música do excelente disco novo do tremendão Erasmo Carlos, Rock 'N' Roll. A música chama-se "Mar Vermelho". Após, Cássia Eller, com "Um branco, um xis, um zero", do disco cAsSiaroCkellErEm seguida, uma música do meu disco preferido dos Paralamas, Severino, de 1994. A música chama-se "Dos margaritas". "Pero nada me hará tan feliz como dos margaritas..." Depois, um clássico de Jards Macalé em parceria com Waly Salomão, "Ôlho de lince", do disco Real Grandeza. No fim, "Hey - Sobre teus passos", dos The Darma Lovers, gravado pela Dubas.


Baixe o arquivo aqui e até 2011.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A crise no Rio

Sobre a situação no Rio de Janeiro, o blog recomenda os textos de Luiz Eduardo Soares, "A crise no Rio e o pastiche midiático", publicado em seu blog, e do deputado estadual Marcelo Freixo, "Não haverá vencedores", publicado na Folha de São Paulo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Desafios gerais do governo Dilma

Em um último artigo sobre as eleições enviado na semana passada para o site openDemocracy, escrevi que Dilma Rousseff terá três desafios importantes pela frente em seu governo: 1) dar continuidade ao que o cientista político André Singer chama de "lulismo", ou seja, a capacidade de Lula de se colocar para as classes mais baixas como uma opção política de ascensão social sem confronto;  2) enfrentar os próprios limites do "lulismo", que avançou nas questões da renda, do consumo e do emprego mas não se mostrou capaz de atacar da mesma forma os problemas nas áreas da educação básica, da saúde e da segurança, ou seja, a velha questão da insuficiência dos bens públicos no Brasil; e, finalmente, 3) encarar as dificuldades que o ambiente econômico internacional apresenta e que não devem cessar no curto prazo.

Sobre o primeiro ponto, a questão passa pelo fato de que Dilma Rousseff já enfrenta e vai enfrentar ao longo de todo seu governo as pressões de uma ampla coalizão de governo que vai dos setores mais conservadores do Partido Progressista até os mais à esquerda do Partido dos Trabalhadores, algo que só foi possível de ser construído graças ao carisma e ao capital político de seu antecessor. Nesse sentido escrevi: "The challenge to her is to keep control of her own agenda while balancing the forces around her and maintaining popular support. This would be formidable work for anyone; the example set by Lula makes it even more so."

O segundo ponto diz respeito aos limites do "lulismo". Trata-se aqui de uma "revolução capitalista". Lula e o PT vêm da periferia do núcleo do capitalismo brasileiro: a cidade de São Paulo. De fato, por meio de um olhar marxista, não é difícil perceber que, de uma certa forma, a polarização entre o PT e o PSDB que vem dominando a política brasileira é, na verdade, uma extensão da luta de classes paulista. Não à toa, o grande sucesso do governo Lula tem por base o crescimento da renda, do consumo e do emprego formal. Setores como educação básica, saúde e segurança pública não tiveram o mesmo peso durante esses últimos oito anos – e aqui a questão das responsabilidades federativas serve apenas de álibi para a ineficiência. Também não surpreende que no mesmo momento em que o FMI afirma que o Brasil será a sétima economia do mundo em 2011, um relatório das Nações Unidas relata que um brasileiro médio passa 7,2 anos na escola, o mesmo período que um cidadão médio do Zimbábue, que tem o pior IDH do planeta. 
     
"The third challenge will be the pressure of the international economic situation", escrevi. "The United States and Europe are in poor economic shape, and this creates problems for the global economy as a whole, Brazil included. A major problem here is the appreciation of the Brazilian currency; this is reflected in Dilma Rousseff’s attendance with Lula at the G20 meeting in Seoul on 11-12 November 2010, where currency values were high on the agenda of world leaders. The continuing recession and/or slow growth abroad that will also probably force the Brazilian economy to give priority to the domestic market, which in turn will create inflationary pressures and thus measure the administration's commitment to fiscal responsibility. A zero-sum game between steep interest-rates and inflation would be especially harmful in Brazil, which already has perhaps the highest real interest-rates in the world."


O artigo completo pode ser acessado aqui.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Música do mundo Podcast - Novembro de 2010 e toda a coleção

Bem-vindo ao Música do Mundo Podcast, edição de novembro de 2010. O programa deste mês tem em torno de 25 minutos, pesa 33 megabytes e está no formato mp3. Seu download dura menos de 5 minutos. Como sempre, a dica para baixar o arquivo é utilizar o botão direito do mouse, no PC, ou o 'control+mouse', no mac, e pedir o download. Para ouvir, basta clicar.


O podcast começa com duas parcerias do hip hop brasileiro. Na primeira, Veiga & Salazar (Featuring Max B.O.), em "Ontem já era". Na segunda, Ginger Ale vs Z'Africa Brasil, com "Hip Hop não para".


Depois, a cantora do Benin vencedora do Grammy Angélique Kidjo, com "Battu", de uma coleção da Putomayo. Em seguida, o congolês Papa Wemba (& M.Munan), com "Le Voyageur", da trilha sonora da obra prima de Bertulucci, Assédio/Besieged. Na penúltima faixa, Yasser Habeeb, dos Emirados Árabes. A música chama-se "Elama". Para terminar, o velho e bom Sting, com a música "Brand New Day", do álbum homônimo.


O arquivo está disponível aqui.


Aproveito para disponibilizar a coleção completa de todas as edições do Música do Mundo Podcast, desde aquela de maio de 2010, incluindo a de setembro, que não foi colocada no ar na época em função das eleições.
O arquivo n. 10, de outubro, está disponível aqui. (veja lista das músicas)
O arquivo n. 9, de setembro, está disponível aqui
O arquivo n. 8, de agosto, está disponível aqui. (veja lista das músicas)
O arquivo n. 7, de julho, está disponível aqui. (veja lista das músicas)
O arquivo n. 6, de junho, está disponível aqui.
O arquivo n. 5, de maio, está disponível aqui.


Um abraço,
Arthur
www.ituassu.com.br

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Em jogo, o poder de negociação de Barack Obama

A vitória histórica dos republicanos nas eleições de meio de mandato deste ano traz uma nova dificuldade para o governo Barack Obama nos Estados Unidos. Como se não bastasse um cenário econômico desolador – o crescimento em taxa anualizada de 2% do PIB anunciado em 29 de outubro para o terceiro trimestre deste ano é, segundo a Economist, suficiente apenas para evitar o crescimento do desemprego no país e não melhora a vida dos 8 milhões de trabalhadores que perderam seus postos durante a última recessão –, Obama terá que lidar a partir de janeiro de 2011 com uma ampla maioria republicana na Câmara dos Representantes, bem como com um país majoritariamente comandado por governadores do Grand Old Party (GOP).

Mesmo que a tendência normal é de que a primeira eleição de meio de mandato seja desfavorável ao incumbente – explicada pelo fato de que as muitas expectativas lançadas na eleição dificilmente são contempladas –, a vitória republicana alcançou resultados históricos. Com a ajuda da mobilização levada à frente pelo movimento tea-party, os republicanos angariaram pelo menos 60 cadeiras na Câmara dos Representantes (alguns resultados ainda estão indefinidos em função de recontagens), o que dá ao partido a sua maior representação na Casa desde 1940. Os democratas tinham 255 representantes na Câmara antes da eleição, agora têm 186. Os republicanos tinham antes 178. Agora, 239. Além disso, a importante maioria democrata no Senado perdeu pelo menos seis assentos. Agora são 53 democratas contra 46 republicanos (um assento ainda está indefinido e pode ficar nas mãos dos republicanos). No âmbito dos estados, os democratas governam agora 17, e os republicanos, 29 (um governador é independente e em três estados o resultados das últimas eleições ainda não foi definido).

O balanço geral do pleito assume uma conotação ainda mais negativa frente à tendência jeffersoniana de Barack Obama de priorizar a agenda doméstica em detrimento de ambições internacionais, já discutida em outro post. Na ocasião, escrevi, seguindo a análise de Walter Russell Mead: "Jeffersonianos, como Barack Obama, são partidários da vida simples, de governos sem grandes pretensões. Não gostam das máquinas públicas de guerra, de intervenções exageradas e muitos compromissos internacionais. Acham que a melhor política externa dos Estados Unidos é servir como exemplo para outras nações, construindo uma vida social justa, pacífica e livre. Os camponeses de A vila, de M. Night Shyamalan, são jeffersonianos típicos. Bem como foi a luta de Mark Twain contra a ocupação americana das Filipinas no final do século XIX, muito bem retratada em seu livro Patriotas e Traidores, publicado no Brasil pela Fundação Perseu Abramo".

Nessa situação, presidentes têm basicamente duas opções, ainda mais em cenários de crise e na intenção (e sob pressão) de implementar reformas: buscar pautas consensuais e fazer acordos em questões possíveis atrás do apoio de adversários moderados ou acusar o partido adversário de criar um impasse no governo, de usar a (precária) situação do país em prol de benefícios políticos próprios. No primeiro caso, há o risco de se descontentar o eleitorado próprio. No segundo, o eleitorado em geral pode interpretar o posicionamento do presidente como descaso ao que foi decidido no voto. Em 1994, Bill Clinton conseguiu negociar com um Congresso de maioria republicana, mas o ex-presidente não enfrentou uma maioria tão ampla e um movimento conservador em efervecência como o tea-party, que certamente irá patrulhar as ações de republicanos mais moderados no Congresso. Além disso, são conhecidas as excepcionais credenciais de Clinton como negociador.

Nesse contexto, pesa o fato de que várias decisões sobre o orçamento do governo americano terão que ser tomadas nos próximos meses. Uma oposição republicana ferrenha pode significar mais dificuldades para o governo Obama implementar novas medidas de estímulo à economia como forma de recuperação da crise recente. Obama tem tentado a fórmula clássica keynesiana à la Roosevelt com o intuito de retomar o ritmo de crescimento, em detrimento do enorme déficit fiscal. Segundo muitos republicanos, as políticas não têm demonstrado efeito e, para uma boa parte do partido, está na hora de conter os gastos e apostar mais na iniciativa privada.

O problema para os republicanos e o que pesa a favor de Obama é que o partido não está unido sobre como seguir em frente depois da vitória acachapante nas eleições de meio de mandato. Boa parte das análises afirmam que a liderança mais experiente republicana teme que a postura dos mais radicais acabe prejudicando o partido nas eleições de 2012, com propostas como a extinção de certas agências do governo e o endurecimentos contra os imigrantes ilegais e ampla resistência em relação aos debates sobre meio ambiente e o casamento gay. Provavelmente, essa divisão ficará ainda mais clara quando tiver início o processo de escolha do partido para as presidenciais de 2014.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Por que votar em Serra: alternância de poder e estabilidade institucional

Não tanto pelo candidato, muito menos pela campanha. De qualquer forma, o autor deste blog assume seu voto: José Serra. Pelos seguintes motivos.

Em primeiro lugar, pelas vantagens produzidas pela alternância de poder. Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva fizeram ambos governos com altos e baixos mas que em geral foram muito positivos para o país e se complementaram. O primeiro teve um papel histórico na estabilidade econômica brasileira e ainda conseguiu avanços significativos nos campos importantíssimos da educação básica e da saúde pública. O segundo soube manter os pontos positivos do programa econômico anterior e ainda reforçou políticas públicas importantes de distribuição de renda e geração formal de emprego. A alternância de poder traz mudanças nas prioridades de governo que acabam gerando benefícios para a sociedade de forma mais geral. Além disso, mantém fortes a oposição e o controle sobre o poder e impede que qualquer partido ou governo se sinta na posse do Estado – que na República pertence ao povo, a todo e qualquer cidadão.

Além disso, ao meu ver, a eleição de José Serra traz menos riscos à estabilidade das instituições brasileiras. O primeiro turno das eleições deste ano fortaleceu a aliança em torno do governo Lula e de um possível governo Dilma Rousseff na Câmara e no Senado brasileiros. PT e PMDB juntos possuem 372 de 513 votos na Câmara, onde o PT se tornou o maior partido com uma bancada de 88 deputados. Além disso, juntos, os dois partidos somam agora 34 de 81 votos no Senado, onde o PMDB tem a maior bancada, com 20 senadores. Juntos e com o apoio de um Executivo alinhado, os dois partidos têm força suficiente para implementar mudanças constitucionais no país. Uma Presidência José Serra, por outro lado, seria forçada a negociar mais com o Congresso brasileiro do que no caso de Dilma Rousseff.

Por mais que o Congresso e os partidos não tenham uma boa imagem entre os cidadãos brasileiros, é melhor um Congresso ruim que um Congresso que não exista. Melhor um Congresso forte que um Congresso fraco. Melhor ter um Congresso como contrapeso do que alinhado. O contrapeso mantém a estabilidade das instituições, que é o motor mais perene do desenvolvimento e do avanço. Quanto mais tivermos estabilidade institucional, mais podemos confiar nos rumos e nas decisões políticas, o que traz segurança a todos, inclusive aos investimentos. Teria sido o governo Lula tão positivo se não estivesse constrangido por instituições-chaves da política brasileira como o Senado e a imprensa?

Nesse sentido, o autor deste blog assume seu voto em 31 de outubro: José Serra, 45. Sobre a neutralidade de Marina e do PV, os verdes e o PSDB perderam uma oportunidade histórica. Os custos políticos aparecerão no futuro.

Música do Mundo Podcast - Outubro de 2010

Bem-vindo ao Música do Mundo Podcast, edição de outubro de 2010. O programa deste mês tem em torno de 25 minutos, pesa 34 megabytes e está no formato mp3. Seu download dura menos de 5 minutos. Como sempre, a dica para baixar o arquivo é utilizar o botão direito do mouse, no PC, ou o 'control+mouse', no mac, e pedir o download. Para ouvir, basta clicar.


O podcast começa com os franceses do Noir Desir. A música chama-se "666.667 Club" e abre o disco homônimo de 1998. Em seguida, uma versão do grupo inglês Placebo para a música antológica de Morrisey: "Bigmouth Strikes Again", eternizada pelo The Smiths.


Na sequência, o multiculturalista americano David Byrne, com a música "Angels", do disco de 1994 que leva o nome do cantor. Depois, a música "Captain Easychord", do antigo Stereolab, uma banda formada em Londres em 1990 cuja formação-base contava com a francesa Laetitia Sadier e o guitarrista e tecladista Tim Gane. Eles estão parados desde abril de 2009.


Em seguida, nosso grande Jards Macalé, com a música "Negra melodia", tirada do álbum Real Grandeza, que conta com músicas de Macalé em parceria com o poeta Waly SalomãoPara terminar, um clássico mexicano "Canción Mixteca", de autoria de José López Alavés, produzido por Ry Cooder para a trilha sonora de Paris,Texas, de Win Wenders.


Música do Mundo Podcast
Outubro de 2010
Clique aqui para acessar o arquivo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A vitória da agenda ambiental e a nova cara da oposição no Brasil

Se as instituições foram quem mais perderam nas eleições 2010, pode-se dizer desde já que a agenda ambiental foi a grande vitoriosa do pleito. É bem verdade que os quase 20 milhões de votos (19,33%) da candidata do Partido Verde (PV), Marina Silva, não vieram totalmente da consciência ambiental. Marina contou também com uma boa parcela do voto evangélico desconfiado de certas posições sensíveis a este grupo da candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, bem como da preferência dos eleitores que buscaram na candidata uma opção mais coerente de oposição ao governo em relação à errática campanha do candidato do PSDB, José Serra. Mesmo assim, não há como negar que o grande e mais forte símbolo da campanha de Marina Silva e do PV à Presidência foi uma agenda ambiental integrada a todo um novo modelo de sociedade no Brasil. Dessa forma, tanto Dilma Rousseff quanto José Serra terão que firmar compromissos nesse terreno se quiserem ter o apoio de Marina ou mesmo somente para avançar junto ao eleitorado verde, em especial entre aqueles que são realmente identificados com a causa.

Nesse ponto, Serra leva vantagem. Além de Marina Silva já ter experimentado na prática desavenças com o governo Lula, quando fora ministra do Meio Ambiente, PT e PSDB são aliados em vários estados brasileiros, em especial em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, o que pode favorecer a aproximação dos dois partidos. Se o PT já mostrou uma certa incompatibilidade do seu projeto desenvolvimentista com o modelo ambientalista de Marina Silva, o PSDB tem a chance agora de firmar tal aliança na origem de uma plataforma política comum de nível nacional. Isso pode ser uma grande chance de renovação do PSDB e um forte impulso à agenda ambiental ao mesmo tempo.

Além disso, a oposição ganhou uma grande oportunidade de construir uma nova identidade política, algo que una as plataformas socialdemocrata e ambientalista. Se a oposição passou oito anos sem conseguir se diferenciar do governo Lula em termos de projeto político, pode estar aí uma possibilidade. Uma socialdemocracia ambientalista pela união do PSDB com o PV pode criar uma nova identidade no espectro político brasileiro que defina melhor as posições e, principalmente, a plataforma de oposição.

Afinal, Serra também deve à candidata Marina Silva sua presença no segundo turno das eleições. Segundo a Folha de São Paulo, três fatores pesaram no resultado do primeiro turno: 1) a queda de Dilma Rousseff entre os eleitores de classe C (com renda mensal entre R$ 1020 e R$ 2550) e entre os menos escolarizados – o que pode ser explicada pela desconfiança de certos setores evangélicos e pelos escândalos de corrupção e o acirramento do governo com a imprensa, que minaram a candidatura petista ao fim da campanha para o primeiro turno; 2) ao avanço de Marina Silva nessa mesma classe, com tendência de crescimento no Sul, Sudeste e Nordeste, bem como um apoio feminino de última hora à candidata; e 3) um movimento de recuperação de Serra em São Paulo e sua vitória no que a Folha identifica como o "arco do agronegócio", que inclui os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia – que pode ser explicada em função dos prejuízos que o atual câmbio valorizado gera à agricultura de exportação.

Entre esses fatores, diz a Folha, "pesaram mais a arrancada de Marina e a queda de Dilma. Em dez dias, a candidata do PV cresceu 5,5 pontos percentuais, considerando os votos válidos; Dilma recuou 7. Serra subiu 1,7 ponto percentual".

De fato, José Serra ganhou sobrevida e tem boas chances de apertar a disputa. Além da possibilidade da aliança com o Partido Verde, Serra ainda tem espaço para crescer em alguns estados importantes. O primeiro deles, claro, é Minas Gerais. Dilma teve 46,98% dos votos mineiros e Serra, apenas um pouco mais de 30%. O comportamento do senador eleito Aécio Neves será fundamental na disputa pelo segundo maior colégio eleitoral do país. No atual contexto, eleito senador e já tendo feito seu sucessor no governo do estado – seu candidato Antonio Anastasia teve a preferência de 62% do eleitor mineiro –, Aécio Neves teoricamente estará mais livre para trabalhar pela campanha de Serra.

Afinal, Aécio Neves não tem mais muito a perder. Se José Serra ganhar, o mineiro será líder do governo no Senado e candidato natural à sucessão. Se Dilma Rousseff ganhar, será líder da oposição no Senado e também seu candidato natural à sucessão. Nesse contexto, a opção de "cristianizar" a candidatura Serra em nome da competição interna ao partido pode ser perigosa para a imagem do ex-governador.

Além de Minas Gerais, José Serra pode também crescer no Rio Grande do Norte, onde a candidata do DEM ao governo do estado, Rosalba Ciarlini, venceu no primeiro turno, com 52,46% dos votos. No mesmo estado, Dilma obteve 51,76% dos votos, contra 28,14% de José Serra.

Da mesma forma, o candidato do PSDB também pode crescer no Tocantins. Seu companheiro de partido, Siqueira Campos venceu a eleição para governador do estado com 50,52% dos votos. No Tocantins, Dilma obteve 50,98% dos votos contra 27,99% de José Serra.

Outro estado onde Serra ainda tem margem ampla de crescimento é o Pará, em especial na capital Belém. No estado, um segundo turno será disputado entre Simão Jatene, do PSDB, que teve 48,91% dos votos, contra a atual governadora Ana Julia, do PT, que teve 36,05%. A governadora tem alta rejeição a sua gestão, marcada por várias suspeitas de corrupção. No Pará, Dilma Rousseff teve 47,93% dos votos, contra 37,69% de Serra. Na capital, Dilma obteve 37,25% dos votos; Serra, 35,2%, e Marina, 25,61%.

José Serra também tem possibilidades de crescer no Paraná e em Santa Catarina, estados definidos no primeiro turno em favor do DEM e do PSDB, respectivamente. Mesmo em São Paulo, Serra ainda tem espaço para crescer. Se o governador eleito Geraldo Alckmin obteve 50,63% dos votos, o candidato do PSDB à Presidência recebeu somente 40,66% da preferência do eleitor paulista.

Enfim, se a eleição parecia definida em favor do governo, após os resultados do primeiro turno a oposição ganhou sobrevida e tem amplos espaços de manobra para crescimento. Sem dúvida, Dilma Rousseff ainda é a favorita. Tem o presidente ao seu lado e 51% das intenções no segundo turno, segundo o Datafolha, contra 39% de Serra. No entanto, foi aberta uma oportunidade para a candidatura José Serra. Resta saber o que se fará dela. A agenda ambiental, por exemplo, seria um ponto de partida significativo e representativo da disposição da candidatura do PSDB de se reinventar.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Eleições, democracia e republicanismo no Brasil

Nos últimos dias, muitos manifestos em defesa da democracia ou de princípios democráticos foram apresentados por setores variados da sociedade brasileira que criticam, em especial, o comportamento do presidente Lula nessas eleições. Até mesmo em função de suas origens e dado o contexto de acirramento político fruto da proximidade do pleito de 3 de outubro, três manifestações em particular ganharam mais notoriedade. São elas os editoriais publicados ontem, domingo, 26/09, nos jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, e o Manifesto em Defesa da Democracia, cujo lançamento em 23 de setembro último foi amplamente divulgado pela mídia. Das assinaturas do Manifesto constam nomes importantes como Celso Lafer, D. Paulo Evaristo Arns, Miguel Reali Jr., Ferreira Gullar, entre outros.

Se qualquer manifestação em defesa da democracia é importante e bem-vinda; se, no que diz respeito à democracia, melhor que tenhamos manifestações a favor do que contra; se nunca é demais defender os princípios básicos da liberdade política; mesmo assim, talvez muito influenciadas pelo contexto político e histórico sul-americano, tais manifestações passam apenas de forma transversal no que tem sido o principal problema dessas eleições: os ataques sistemáticos, por parte do presidente e do governo, à instituição republicana, e não à democracia em especial.

Folha e Estado, que, com a decadência notória do jornalismo impresso carioca, dividem hoje sozinhos a ponta na relevância da imprensa escrita nacional, apresentaram seus manifestos com base em uma preocupação pontual, mas nem por isso pouco importante: a liberdade de noticiar. Em meio a uma nova sucessão de escândalos que envolve o governo e toma as páginas dos jornais às vésperas do pleito, a Folha e o Estado reagiram a declarações do presidente que tenta deslegitimar as denúncias, protegendo, assim, sua candidata.

"O direito de inquirir, duvidar e divergir da autoridade pública é o cerne da democracia, que não se resume apenas à preponderância da vontade da maioria", escreveu a Folha. Em tom mais ríspido, e em texto que declara seu voto ao principal candidato da oposição, o Estado afirmou: "Efetivamente, não bastasse o embuste do 'nunca antes', agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários".

As manifestações dos dois jornais são importantes e historicamente fazem parte de um contexto de reações que tomaram mais corpo a partir do lançamento do Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3), apresentado no início do ano pelo governo Lula e que continha vários pontos polêmicos no que diz respeito ao controle, por parte do governo, do conteúdo jornalístico no Brasil. Este é um tema, digamos, em tensão hoje no país e nunca será demais reafirmar, nesse contexto, a liberdade de imprensa e o absurdo de qualquer controle sobre o conteúdo jornalístico.

O Manifesto em Defesa da Democracia, no entanto, vai mais além que os editoriais dos dois grandes jornais brasileiros. Diz o texto assinado já por quase 45 mil pessoas, este autor inclusive: "É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais. (...) É constrangedor que o Presidente não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há "depois do expediente" para um chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura".

Está aí o problema, que, ao meu ver, paira mais no terreno do republicanismo que da teoria democrática. Depois de resistir com mérito às pressões para que disputasse um absurdo terceiro mandato, o presidente Lula suja sua biografia de governo no fim do segundo mandato alimentando um dos piores males da cultura política brasileira: a confusão entre governo e Estado.

O presidencialismo brasileiro coloca na mão do mandatário a responsabilidade de ser tanto chefe de governo quanto de Estado. Ou seja, o presidente, em nenhum momento, deixa de ser o segundo. E, na República, o Estado não "serve" ao povo, não "atende" o povo, não "cuida" do povo. O Estado é posse do povo, propriedade de todos os cidadãos. O Estado não pode fazer campanha por um candidato ou outro porque o candidato não é de todos, nem pode ser. Na República, os cidadãos são donos do Estado. Quando um chefe de Estado defende um ou outro candidato de governo nada mais faz que se apoderar do Estado, um hábito comum entre políticos brasileiros e seus inúmeros indicados no aparelho estatal. É como se o sujeito que aluga sua casa decidisse, de uma hora para outra, vendê-la.

Nesse contexto, vale lembrar de Cícero, em De re publica (livro III, 43), ao se referir a Dionísio I, rei de Siracusa – a cidade-Estado grega localizada na Sicília – entre os anos 405 a.C. e 367 a.C. "Siracusa, aquela cidade admirável, com seus portos, suas ruas largas, seus portões, seus templos e seus muros, não pode ser uma República enquanto Dionísio for seu rei, porque nada pertence ao povo e o povo em si pertence a um homem só".

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Os erros de Serra e do PSDB

As eleições presidenciais deste ano são favas contadas. Com 24 pontos de vantagem sobre José Serra, segundo o Ibope, e 51% da preferência do eleitorado, Dilma Rousseff caminha a passos largos para uma vitória expressiva, que pode vir até mesmo no primeiro turno.

Tamanha facilidade não se deve apenas à popularidade do presidente Lula, que gira em torno de 80% de aprovação. A diferença foi alimentada também por erros gravíssimos cometidos tanto pela campanha de Serra quanto pelo próprio PSDB, que terá obrigatoriamente de se reavaliar.

Em primeiro lugar, é absurdo que um candidato à Presidência pelo PSDB esconda o nome mais importante do partido na história recente: Fernando Henrique Cardoso. Por mais que o argumento "marqueteiro" afirme que FHC não possui uma imagem positiva junto ao eleitorado, cabe ao partido e ao seu candidato à Presidência procurar modificar essa situação. Para que serve o discurso político se uma campanha obedece somente às sondagens?

Por incrível que isso pareça, a rejeição ao governo FHC tem estado presente em todas as campanhas para presidente do PSDB desde 2002. Naquele ano, Serra não defendeu FHC dos ataques da oposição. Em 2006, Geraldo Alckmin foi incapaz de responder à ofensiva contra as privatizações. Em 2010, Serra novamente prefere ter Lula do que FHC ao seu lado.

Que partido é esse que não defende seus quadros mais importantes e sua história? Onde está Mario Covas e seu discurso clássico em que ousou pregar a necessidade de um "choque de capitalismo" para o Brasil, ao se despedir do Senado para disputar as eleições presidenciais de 1989? Onde está Fernando Henrique Cardoso e o Plano Real que puseram abaixo uma inflação que chegou a 20.759.903.275.651% entre abril de 1980 e maio de 1995? Se os candidatos à Presidência do partido têm vergonha do passado da própria legenda, há algo de errado com a escolha deles ou com a própria agremiação, em especial em uma campanha na qual o adversário o tempo todo não se furta de provocar a comparação.

Outro erro fundamental foi o próprio processo de escolha do candidato. Ao se decidir, em uma reunião fechada, mais uma vez por um candidato paulista, como em 2002 e 2006, alijando as pretensões do mineiro Aécio Neves, o PSDB propiciou vários fenômenos políticos negativos. O principal deles é o voto de protesto em Minas, segundo colégio eleitoral do país, onde Aécio Neves e Itamar Franco são favoritos ao Senado, o candidato do popular ex-governador mineiro já aparece à frente do adversário (segundo o Ibope, Antonio Anastasia, do PSDB, tem 35% da preferência do eleitorado, contra 33% de Hélio Costa, do PMDB), mas onde Dilma tem o dobro das pretensões de voto de Serra (51% a 25%).

Além disso, enquanto Dilma Roussef, uma mineira radicada no Rio Grande do Sul, se apresenta como uma candidata de âmbito nacional, Serra ganha o carimbo da elite paulista, vista em boa parte do país como etnocêntrica, mesmo que não ganhe esse nome sofisticado em todas as regiões. Note que a pecha é duplamente negativa: "elite" e "paulista", o que favorece a candidata do governo em muitas regiões onde as pretensões políticas paulistas são vistas com extrema desconfiança.

Somam-se os erros e o resultado é uma campanha sem rumo e um partido sem identidade. Qual o projeto de José Serra para o país? Qual o projeto do PSDB para o Brasil? O que é o PSDB? O PSDB é Lula, mas não FHC?

A reavaliação do partido será obrigatória e o contexto não ajuda. Com a aproximação de Lula e do PT para o centro, o espaço da social-democracia no espectro político brasileiro está ocupado. Uma aliança com o governo, como se cogita, por intermédio de Aécio Neves, pode consolidar a legenda em uma posição subalterna, enfraquecida, sem falar no problema que gera à democracia brasileira com a extinção da oposição propriamente dita.

A manutenção do perfil social-democrata pelo PSDB exigirá a formação e a consolidação de novas bases ideológicas e de apoio. Caso isso não ocorra, o partido arrisca ser lembrado apenas como uma legenda de transição na história política recente do país.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Anacronismo domina campanhas na internet

O primeiro debate no Brasil entre candidatos à Presidência transmitido somente pela internet foi realizado na última quarta-feira, 18, promovido pelo site UOL e pelo jornal Folha de São Paulo. Segundo os organizadores, o acesso aos dois sites oficiais que promoveram o confronto (UOL Notícias e Folha.com) cresceu 350% durante o debate, que reuniu José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva e foi visto por internautas de 127 países, contabilizando quase um milhão e meio de cliques nas três horas do embate político. No Twitter, a tag #debatefolhauol foi usada 51 mil vezes e chegou ao topo dos assuntos mais comentados no mundo.

O sucesso e a repercussão do debate somados à preocupação dos candidatos de marcar presença na rede mundial de computadores, inclusive com vários sites voltados para objetivos diferenciados de campanha, mostram sem dúvida alguma que a comunicação política brasileira avançou pelo terreno virtual, do qual não pode mais prescindir.

Em busca dos mais de 65 milhões de brasileiros conectados à internet, a campanha de José Serra, por exemplo, possui, além do site oficial, o Sou Serra, um tipo de rede social em torno da candidatura, e o interessante Proposta Serra, onde o cidadão pode criar um perfil e debater o programa de governo do candidato para a Presidência. Há vídeos sobre Serra postados no You Tube, um twitter da campanha e outro do próprio candidato e uma página no Facebook.

Dilma, da mesma forma, possui, além do site oficial, por onde, por sinal, aceita doações, uma página no Orkut e outra no Facebook. A candidata também está no You Tube, no Flickr e no Twitter.

Marina Silva, que também arrecada via internet, segue o padrão: site oficial, blog, twitter e orkut.

No entanto, apesar das múltiplas opções e plataformas, as campanhas dos principais candidatos na internet têm sido marcadas por um anacronismo clássico do uso recente de uma nova plataforma de comunicação. O ponto principal é o da inadequação da linguagem. Um dos problemas mais graves no uso da internet feito até então por políticos brasileiros, e nisso se encaixa em geral o uso que a campanhas à Presidência têm feito da internet, pelo menos até então, é o da inadequação da linguagem ou o uso de uma comunicação típica "de massa" para um ambiente comunicativo diferenciado.

O fato de que as campanhas na internet ainda se mantenham prioritariamente focadas na pessoa do candidato é o ponto principal que reforça essa impressão de inadequação. Serra, Dilma e Marina na internet ainda se posicionam como "falantes" para uma "massa", usando simplesmente o ambiente da www para veiculação dessa "fala". Todos os sites, blogs, twitters e rede sociais são centralizados na pessoa dos candidatos e em geral ganham o nome do mesmo. Todos sem exceção servem muito mais, assim concebidos, para reunir partidários das próprias campanhas do que efetivamente angariar novos eleitores.

Somos muito habituados ao "modelo tubular" da comunicação de massa, por meio do qual um pequeno grupo se expressa para uma massa receptora. Levar essa mesma linguagem para a internet tem sido um erro claro e constante no uso da rede por políticos brasileiros, e há algumas pistas sobre como lidar com isso na prática.

Na internet, a mobilização é produto de um discurso construído por vozes múltiplas em cima de "causas", não de políticos. Diferentemente da comunicação de massa tradicional, a internet não é o local, pelo menos no que diz respeito à mobilização, para o discurso de uma via apenas. O discurso tem que ser contruído em conjunto. Ou seja, o usuário deve participar da construção do discurso. Como fazer isso?

Um bom exemplo foi a campanha de Antanas Mockus, na Colômbia, com plataformas que se transformam em grandes movimentos. O slogan "A vida é sagrada", colocado no contexto colombiano, teve um efeito arrebatador entre os jovens. A plataforma altruísta que ressaltou a importância e a seriedade do voto também. A questão é que a própria campanha tem que ser repensada para a internet. Como a linguagem é outra, não adianta adaptar os slogans e as propostas para a internet, é preciso criar algo específico para o ambiente.

Outro ponto importante é a relação da campanha na internet com a mídia de massa tradicional. Tratadas como mídias diferenciadas, que necessitam de discursos e abordagens específicas, a internet e a mídia de massa tradicional devem ser pensadas como complementares pela comunicação política, e não como disseminadores diferenciados de uma mesma mensagem. Um movimento temático na rede mundial de computadores deve, para existir, estar ligado a um acompanhamento midiático de massa tradicional. Caso contrário, perde-se no amaranhado de informações sem credibilidade da rede. A jovem internet ainda necessita da velha mídia de massa para se legitimar socialmente. 

De qualquer forma, o que fica claro é que não se trata de fazer propostas. Não se trata de explicar e propor, mas de debater e, principalmente, lançar movimentos, e movimentos os quais muitas vezes ninguém é contra. Ninguém é contra a vida, a educação, a saúde. Lançar movimentos significa trazer o cidadão para dentro do discurso, mobilizá-lo dentro do contexto social. Na internet, mais importante que um político com todas as respostas, o que soa muitas vezes anacrônico e defasado, é um político que levante os assuntos certos, na linguagem certa.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Música do Mundo Podcast - Agosto de 2010

Bem-vindo ao Música do Mundo Podcast, edição de agosto de 2010. O programa deste mês tem 26 minutos, pesa 24 megabytes e está no formato mp3. Seu download dura menos de 15 minutos. Como sempre, a dica para baixar o arquivo é utilizar o botão direito do mouse, no PC, ou o 'control+mouse', no mac, e pedir o download. Para ouvir, basta clicar.

Abrem o programa os californianos do Radar Bros. Conheci-os por intermédio de outro podcast, o da Totem. A música chama-se "Dear Headlights" e está no disco Illustrated Garden, facilmente encontrável na Amazon. Outras do disco são tão belas quanto, como "And the Birds" e "Xmas Lights".

Em seguida, as francesas do Les Nubien, em uma gravação do clássico de Sade, "Sweetest Tabou". A música está no álbum Princesses Nubiennes, de 1998.

Depois, o rap português do moçambicano General D, com participação do brasileiro Funk'N Lata, de Ivo Meirelles. A música chama-se "Sobi esse pano mano", uma expressão do português africano para "bota a camisinha". Está no álbum Red Hot and Lisbon, outro exemplar da coleção Red Hot da Verve, que arrecada fundos para o tratamento da Aids.

Em seguida, uma música de uma coletânea comprada em Goa. A música chama-se "Stigma", o artista: Ronan.

Logo depois, "Butterfly", do músico e produtor indiano radicado em Londres, Talvin Singh. O disco chama-se O.K.

Antes de terminar, "Shambala", do disco clássico do Beastie Boys, Ill Communication, e a versão mutante de Baby, em inglês e Technicolor.

Espero que seja do agrado,
até a próxima.

Música do Mundo
Agosto de 2010
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sexta-feira, 23 de julho de 2010

13 milhões deixaram a miséria desde 1995

Relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado no último dia 16, afirma que 12,8 milhões de brasileiros deixaram a situação de pobreza entre 1995 e 2008 e 13,1 milhões saíram da miséria no mesmo período.

O avanço é considerável. Em 1995, 43,4% dos brasileiros eram considerados pobres pelo Ipea, ou seja, com rendimento menor que meio salário mínimo, cujo valor atual é de R$ 510,00. Em 2008, o índice era de 28,8%. Ao mesmo tempo, 20,9% da população vivia na miséria em 1995, ou seja, com rendimento menor que 1/4 de salário mínimo. Em 2008, a taxa era de 10,5%.

Além disso, o coeficiente de Gini, que mede a desigualdade de renda, também melhorou, caindo de 0,64 para 0,54 no mesmo período – quanto mais perto de 1, mais concentrada é a renda de um país. Nesse caso, no entanto, apesar da melhora, o Brasil ainda permanece entre as sociedades mais desiguais do planeta.

De qualquer forma, vale ressaltar o ritmo de redução de pobres e miseráveis no país entre 1995 e 2008. A pobreza caiu no período em uma velocidade média de 2,3% ao ano, e a miséria, 3,2% ao ano. O Ipea acredita que, mantendo-se o ritmo, a miséria estará erradicada no Brasil até 2016, e a pobreza afligirá somente 4% da população ao fim dos próximo seis anos.

Um ponto interessante do relatório é que o período estudado compreende os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e seis anos do governo Lula e demonstra uma continuidade que, não há dúvidas, parece benéfica ao país. De fato, FHC e Lula marcam o início do período de estabilidade institucional no Brasil no novo regime democrático brasileiro, pós-ditadura militar.

Afinal, Tancredo Neves e José Sarney foram eleitos indiretamente. Collor venceu a primeira eleição direta do período, em 1989, mas sofreu impeachment depois de dois anos no governo, acusado de corrupção. Seu vice, Itamar, governou o restante do mandato e, apesar de ter tido um papel importante, não poderia ir além do caráter transitório. Com isso, FHC e Lula se tornam os dois verdadeiros governos democráticos pós-regime militar no Brasil. Nesse sentido, a relação entre democracia e redução da pobreza, no mínimo, não deve ser desprezada.

Além disso, o período histórico estudado tem início em janeiro de 1995, não só o primeiro ano do governo FHC mas naquele momento havia menos de um ano do início do Plano Real. Nunca é demais lembrar que o programa de estabilização aniquilou, segundo o professor Gustavo Franco, uma inflação de 20.759.903.275.651% de 1980 a 1995.

Soma-se à estabilização o programa de transferência de renda do governo Lula – o famoso Bolsa Família – e o resultado pode ser visto nos números apresentados pelo Ipea. Nos primeiros seis meses de 2010, o governo Lula transferiu R$ 7 milhões para mais de 50 milhões de pessoas, um crescimento – que em ano eleitoral gera desconfiança – de 20% em relação ao mesmo período em 2009. Atualmente, um em cada quatro brasileiros recebe o benefício.

No entanto, se os resultados em geral são positivos, alguns pontos negativos devem ser ressaltados. Em primeiro lugar, percebe-se pelos números apresentados pelo Ipea que as regiões mais educadas reduzem a pobreza mais rapidamente que as regiões menos educadas. O Sul e o Sudeste do Brasil tiveram índices de redução de pobreza bem melhores que os das outras regiões. A pobreza no Sul, por exemplo, foi reduzida em 47,1%, e a miséria, 59,6%. No Sudeste, as reduções foram de 34,8% e 41% respectivamente. No Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste, a pobreza caiu 28,8%, 14,9% e 12,7%, respectivamente. Nas mesmas regiões, a miséria foi reduzida em 40,4%, 22,8% e 33,7%, respectivamente. De fato, o Nordeste somente apresentou índices semelhantes ao do Sul e do Sudeste na redução da miséria por causa da forte presença do Bolsa Família nessa região.

Outro ponto importante ressaltado pelo Ipea é o alto crescimento econômico apresentado pelo Centro-Oeste entre 1995 e 2008, sem uma redução da pobreza na mesma proporção. O PIB per capita da região cresceu 5,3% ao ano no período, o maior índice do país em termos regionais. No entanto, o mesmo Centro-Oeste apresentou um índice de redução de pobreza de 2,3% ao ano, melhor apenas que o do Norte (1,6% ao ano). A região também teve o pior desempenho nacional na redução da miséria, com taxa de 0,9% ao ano entre 1995 e 2008.

Duas conclusões estão sendo apontadas a partir da dinâmica apresentada no Centro-Oeste. A primeira reforça a ideia de que o crescimento econômico por si só não é instrumento suficiente para redução da pobreza e da miséria no país. A segunda, ressalta o peso extremo que o funcionalismo público vem exercendo na economia.

Uma pesquisa divulgada no ano passado, por exemplo, mostra que o salário do funcionalismo público subiu, em termos reais, em uma velocidade oito vezes maior que no mercado, entre 2002 e 2008. Enquanto no período a elevação média real (acima da inflação) dos salários do mercado foi de 8,7%, no Executivo foi de 74,2%, no Legislativo, 28,5%, e, no Judiciário, 79,3%.

Segundo a mesma pesquisa, o salário médio no Executivo, em fevereiro de 2009, era de R$ 6.691,00, incluindo todo tipo de função. No mesmo momento, o salário médio do mercado era de R$ 1.154,00.

Não à toa, a última pesquisa da Folha, publicada no sábado, mostra a candidata do governo às eleições deste ano, Dilma Russeff, em vantagem de 12pp no Nordeste e 9pp no DF.

Um artigo em inglês sobre o tema, também de minha autoria, foi publicado no site openDemocracy.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Gastar ou cortar: o dilema

A economia internacional vive hoje um momento-dilema. Em meio à sucessão de crises que teve início no mercado imobiliário americano, em 2007, e que agora preocupa em especial os governos da Europa, com a situação da Grécia e de outros países do continente, a pergunta que não quer calar é: como sair dessa?

Afinal, apesar dos 800 bilhões de dólares injetados na economia americana desde o início do crash, o problema está longe de ser resolvido. O mercado dos Estados Unidos hoje contrata pouco e consume menos ainda, mesmo com taxas de juros perto de zero. Ao mesmo tempo, o exemplo da Europa alerta para a possibilidade de crises financeiras, geradas pelo descuido dos governos com suas contas. Nesse contexto, o que deve ser feito? Expansão ou reforma fiscal?

No último encontro do G-20, realizado no fim de junho, no Canadá, o discurso geral foi pela reforma. Não houve um consenso claro. Os Estados Unidos, por exemplo, se mostraram mais avessos aos ajustes que os europeus. De qualquer forma, mesmo o presidente Barack Obama chamou a atenção para a importância de uma administração mais cuidadosa da dívida pública.

Para debater o assunto, Farred Zakaria, em seu programa na CNN, entrevistou dois nomes pesos pesados, com visões opostas sobre o assunto: Paul Krugman e Niall Ferguson. O primeiro é prêmio Nobel de Economia. O segundo, professor de história econômica em Harvard e best-seller mundial.

Para Krugman, o governo americano, pelo menos, deve gastar mais, muito mais e rápido. Caso contrário, os Estados Unidos arriscam mergulhar no que ele chama de "terceira depressão", depois de 1929 e 1973. Segundo Krugman, não há outra opção para reaquecer a economia americana, dado que as taxas de juros já estão muito baixas e há algum tempo. Ao mesmo tempo, de acordo com Krugman, um gasto de mais 1 trilhão de dólares, por exemplo, faria uma enorme diferença no mercado sem modificar muito o estado atual da dívida pública americana.

Por outro lado, Ferguson defende que a situação fiscal americana está hoje tão segura quanto Pearl Harbor, em 1941. Ou seja, até o momento em que é atacada. Para ele, depois da Grécia, crises fiscais atingirão os governos de Grã-Bretanha, Espanha e Japão. Paul Ferguson prega uma reforma fiscal "radical", que inclua novas formas de taxação e gastos mínimos, como sugerido também pelo deputado republicano do Wisconsin Paul Ryan. Segundo o professor da Universidade Harvard, os problemas nas finanças internas são o primeiro sinal da decadência de um império.

Sobre o Brasil, o último ranking do FMI coloca o país entre os três maiores devedores do mundo entre os emergentes, apenas atrás de Índia e Hungria, com riscos para o equilíbrio fiscal. A dívida pública brasileira equivale hoje a 67% do PIB. O tamanho da dívida e o nível de taxação sobre o mercado brasileiro, quase 40% do PIB, no mínimo não condizem com a péssima qualidade dos serviços públicos brasileiros, que ainda persiste, bem como com a ignóbil concentração de renda no país, ainda entre as piores do mundo.

Veja o debate entre Krugman e Ferguson na CNN.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Música do Mundo Podcast - Julho de 2010

Bem-vindo ao Música do Mundo Podcast, edição de julho de 2010. O programa deste mês tem 27 minutos, pesa 37 megabytes e está no formato mp3. Seu download dura menos de 15 minutos. Como sempre, a dica para baixar o arquivo é utilizar o botão direito do mouse, no PC, ou o 'control+mouse', no mac, e pedir o download. Para ouvir, normalmente basta clicar.

O primeiro artista do programa chama-se A.R. Rahman. Ele é como um John Williams de Bollywood, a megaindústria cinematográfica indiana. Já vendeu mais de 150 milhões de discos no mundo todo. Foi chamado pela Time de "o Mozart das Madras". Ganhou o apelido tamil de Isai Puyal, em inglês: music storm. A mesma Time colocou Rahman entre as "100 pessoas mais influentes do mundo" em 2009. A trilha sonora de Quem quer ser um milionário? é dele, que tem dois Oscars em casa. Uma boa introdução à obra do artista é facilmente encontrada na Amazon. A música chama-se "Mettuppodu".

A música seguinte chama-se "Siyah Perçelerin Goinca Yüzlerin". O Google traduziu do turco para o inglês e sugere: "Tuft of black faces of the Goinca", o que não ajuda muito. Melhor ir aos músicos: Erkan Ogur e Djivan Gasparian. O primeiro é considerado o pai da guitarra fretless. O segundo é armeno e toca o Duduk, similar ao oboé. A Amazon diz que ele é uma verdadeira lenda viva no instrumento. O nome do disco onde está Siyah Perçelerin Goinca Yüzlerin é Fuad, mais difícil de ser encontrado. Uma contribuição de um amigo que esteve por aqueles lados.

A terceira canção chama-se "Queen Bee", uma gravação do legendário guitarrista Henry Saint Clair Fredericks, mais conhecido como Taj Mahal, com os músicos malis Toumani Diabete e Ramata Diakite. Está numa coleção da Putomayo chamada One World, Many Cultures.

A quarta música, "Ya Laymi", é de uma banda argelina: Gnawa Diffusion. Está também numa coletânea da Putumayo, chamada World Reggae.

Para terminar, o clássico de Gershwin "Bess, you is my woman now", na voz do senegalês Baaba Mal. A gravação é de um dos discos da série Red Hot, da Verve, em prol do tratamento da Aids.

Espero que seja do agrado,
até a próxima.

Música do Mundo
Julho de 2007
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sexta-feira, 25 de junho de 2010

A importância da campanha de Antanas Mockus

Apesar de derrotada no segundo turno das eleições presidenciais colombianas, realizado no último dia 19, a campanha de Antanas Mockus, do Partido Verde local, marcou um ponto importante na política sul-americana: a chegada da internet. Na briga com Juan Manoel Santos, ex-ministro da Defesa de Álvaro Uribe, que goza de aprovação superior a 70%, Mockus, ex-prefeito de Bogotá por duas vezes, conseguiu um lugar no segundo turno e algo em torno de 25% dos votos no âmbito nacional.

A façanha mesmo foi ter chegado ao segundo turno. Afinal, trata-se de um político de perfil diferenciado, foge da tradição tanto na origem quanto na linguagem, não possui alianças políticas expressivas e praticamente nenhuma representatividade no Congresso colombiano. Na Colômbia, como no Brasil, as máquinas regionais funcionam, e um candidato desse tipo não tem chances de vitória em um embate direto de segundo turno. O futuro, no entanto, pode ser diferente.

O principal movimento político de Mockus ocorreu entre março e abril desse ano, quando cresceu 20p.p. nas pesquisas. Ele tinha 3% em fevereiro. Mesmo que o empate técnico entre Mockus e Santos, apontado pelas sondagens uma semana antes do primeiro turno, não tenha se concretizado, Mockus conseguiu garantir um lugar no segundo turno com algo em torno de 65% da preferência jovem, entre 18 e 24 anos. Tamanho sucesso foi conseguido com amplo uso da internet, inclusive de redes sociais como o Facebook e o Twitter, marcando a primeira vez que o uso da rede causou um impacto realmente significativo na política de um país sul-americano.

É nesse sentido que, independentemente do resultado final da eleição, não se deve diminuir a importância da campanha de Antanas Mockus nas últimas eleições presidenciais colombianas. Está em campo um novo fator na política sul-americana: a internet. Segundo o index mundi, há hoje mais de 50 milhões de usuários no Brasil, em torno de 10 milhões na Colômbia e na Argentina e 5 milhões na Venezuela, no Peru e no Chile.

Mas a campanha de Antanas Mockus não se destaca somente pelo uso da internet, mas por um modo diferenciado de se expressar e se posicionar na rede. Muitos políticos sul-americanos já utilizam a World Wide Web. Dilma Roussef e José Serra no Brasil têm seus twitters, por exemplo. No entanto, Mockus foi o primeiro, ao menos na América do Sul, a entender que uma comunicação eficiente na internet exige uma linguagem diferente daquela normalmente utilizada nos veículos de comunicação de massa, um novo tipo de discurso, uma nova concepcão de imagem. Na web, o discurso político unilateral da TV, do rádio e do jornal parece anacrônico e limita as possibilidades de eficiência na comunicação política, denotando um problema clássico em contextos de transição tecnológica: o uso de uma linguagem antiga para um novo paradigma e uma nova estrutura de comunicação.

Como afirma a professora Leah A. Lievrouw, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, a comunicação de massa tradicional é do tipo "tubular", onde a produção e distribuição da mensagem estão amplamente concentradas, alguns poucos controlam a comunicação para uma ampla audiência. Nas novas mídias, a informação, o entretenimento, as redes sociais e os contatos interpessoais são gerados, mantidos e compartilhados de forma mais plural, multilateral ou comunitária, o que Leah Lievrouw chama de comunicação "de fronteira". Não à toa, conceitos como de "share" dos anos 1960, em torno do Woodstock, por exemplo, ganharam vida novamente desde os 1990.

Pois ao se analisar como Antanas Mockus utilizou o Twitter, o You Tube e o Facebook, fica clara a imagem de alguém que é parte de um movimento mais amplo que a própria campanha e que se move politicamente de baixo para cima. Isso é notório no vídeo principal da campanha: "Visionarios por Colombia", divulgado no You Tube. A abordagem se aproxima do modelo de fronteira de Lievrouw e por isso se torna bastante atrativa para usuários da rede que podem se sentir mais como agentes participativos do processo em vez de apenas alvos do discurso, menos como sujeitos passivos de um político que procura disseminar suas ideias e mais como constituidores da própria posição e plataforma políticas, uma linguagem pouco usual para aqueles acostumados com o ambiente "tubular" da comunicação de massa tradicional.

Um ponto fundamental, por exemplo, foi o uso de valores políticos e morais como plataformas em ambiente de eleição. Seu slogan principal, "La vida es sagrada", não apenas se apresenta como uma alternativa bastante interessante ao contexto colombiano de confronto entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), tema principal da Presidência Álvaro Uribe, mas também como um valor universal que aponta para a necessidade de que surja algo completamente novo. Só assim poderia-se romper um ciclo de violência que dura mais ou menos desde 1964, com sequestros, tráfico de drogas, violação dos direitos humanos e descaso total com a população local, especialmente no interior.

Mockus ainda deu forte ênfase na internet a outros dois valores: o da seriedade e responsabilidade do voto e o da consciencia, a necessidade de todos sermos conscientes dos impactos que nossas ações exercem sobre os outros e o meio ambiente.

Apesar da derrota, não se deve subestimar a importância da campanha de Antanas Mockus na política sul-americana. É verdade que não se ganha eleição somente com a internet, mas é bem provável que, em breve, nenhum político consiga se abster dela para chegar a vitória. Como um político pode combinar mundos comunicacionais tão diferentes sem perder a coerência será certamente um dos desafios mais complexos que as lideranças terão pela frente.

sábado, 5 de junho de 2010

O Espelho de Avatar

Não à toa, Pandora, o planeta de Avatar, é também a primeira mulher da mitologia grega. O nome embute uma qualidade feminina à natureza e provém de duas ideias: de “reunião” e de “dom” ou “presente”. Na mitologia, cada um dos deuses gregos contribuiu com uma característica específica, presenteada à Pandora, algumas inclusive sedutoras.

Em Pandora, habita uma população de humanóides, os Na’vi. Para a ocupação militar terráquea, trata-se de uma raça chegada a arcos e flechas e que vive "em meio a um gás tóxico que faz seu coração parar em um minuto". Na presença da mulher-natureza e do outro, os ocupantes de Pandora vivem e trabalham "em estado de ameaça permanente". Pandora “é o mais hostil ambiente conhecido pelo homem”.

A dificuldade de lidar com o "outro", em especial se o outro for feminino, representa um estado de insegurança permanente. Nesse contexto, nada mais propício do que se refugiar na técnica, chamar os cientistas à Pandora, com o objetivo de conquistar “corações e mentes” da população local. Ninguém se importa, mas a filosofia do programa espelha uma autoparanóia: se você se parecer com eles, falar como eles, eles confiarão em você. Se o mundo sou eu, não tenho inimigos. “Nós construímos escolas. Demos a eles estradas e medicamentos”.

No que diz respeito à sacralidade, Avatar reproduz a democratização protestante do sagrado. Afinal, qualquer um pode ser o escolhido. Não importa se negro, deficiente ou judeu. No entanto, são brancos os espíritos que abençoam, os espíritos mais puros. A sacralidade é branca. Brancas são as sementes da árvore sagrada.

Da mesma forma, o escolhido não surge para pregar, mas para ouvir. "Por que veio até nós? Vim para aprender", diz aquele que vive sonhando (dreamwalker). Vazio de conhecimento e de cultura, ou seja, no seu "estado de natureza" rousseauniano, ele está mais apto a entender o outro. Somente assim seria capaz de tal façanha. Não estaria tomado pelo medo. Os outros que se escondam na cidade sob a colina.

Para que um time de guerreiros possa acessar uma reserva gigantesca de Unobtainium, o material “inobtível”, os Na'vi terão que se mover.

O escolhido então, como Cristo, acaba condenado pelos seus pares, tornando-se traidor de sua raça. "Os Na’vi não vão abandonar suas casas", diz o traidor. "Não vão fazer qualquer acordo. Em troca do quê? Cerveja e shopping center?"

Ainda mais peculiar é que, antes da salvação, o "traidor" é crucificado. Ao ressucitar, luta contra o demônio red neck que põe abaixo uma árvore, como as torres no 11 de Setembro; seu adversário foi quem deu luz verde ao Massacre de Shabila.

No laboratório, cientistas e gerentes assistem a tudo, como um Big Brother. Na guerra das estrelas, a da morte não pode destruir a floresta das almas. Afinal, a grande-mãe não toma partido, apenas protege a dinâmica da vida.