quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A corrupção e a cultura política no Brasil: Universidade e republicanismo

A corrupção política é um tema sensível hoje no meio acadêmico brasileiro, não sem motivos. Mesmo assim, está na academia, em especial naquela mais apartidária, a melhor forma de lidar com o problema.

Em primeiro lugar, há o tradicional pendor para a esquerda da Universidade no Brasil, que se representa na simpatia histórica da área pelo Partido dos Trabalhadores. O PT sempre teve na academia uma base eleitoral forte, tanto entre funcionários como professores, o que inclusive explica uma retomada do investimento federal nas instituições de ensino superior no governo Lula, em especial no segundo mandato.

Além disso, a questão da corrupção foi abraçada com vigor pela mídia conservadora no Brasil, que soma seus esforços quase conspiratórios ao trabalho constante mas menor do liberalismo progressista brasileiro. Nesse contexto, aceitar a "veracidade" dos escândalos seria algo como "comprar" o argumento da "mídia hegemônica", e o caso do ministro dos Esportes, por exemplo, se reduz assim a uma partida de futebol entre o time do bem e o do mal, com prejuízo para todos.

Uma outra interpretação que envolve a mídia é a de que, na verdade, essa agenda toda focada na corrupção atrapalha o país. Afinal, há vários outros problemas importantes, em especial nos terrenos da educação, da saúde, da segurança social e de infraestrutura, que acabam ganhando pouco espaço frente aos temas da corrupção e também da economia.

Em outro caminho, há os que se refugiam na idéia de que a corrupção existe em todas as sociedades e que, contanto que tudo esteja bem, dá para sobreviver aos sucessivos escândalos. O atraso, afinal, está contabilizado no chamado "custo da democracia" e não vale a pena, em termos de preço e esforço, fazer algo como uma cruzada contra a corrupção – como também não contra as drogas ou o terrorismo internacional. Toma muito trabalho, tempo, espaço e capital para ganhos muito reduzidos.

Se nada disso for suficiente, ainda resta a opção de dizer que a corrupção é uma instituição cultural no Brasil. O brasileiro assim seria algo como um malandro carioca nacionalizado que luta para se dar bem em terreno adverso, sem preocupações muito rígidas com questões éticas e morais.

Apesar do labirinto ideológico em torno do tema, percebe-se facilmente na academia, principalmente naquela mais apartidária, uma reflexão saudável sobre a questão com base nos aspectos republicanos da democracia.

Ora, um antigo e notório problema da cultura política brasileira está no tratamento da coisa pública, da res publica. O público no Brasil, com a exceção distante dos palácios brasilienses, é esteticamente feio, maltrapilho, mal cuidado, decrépito, desrespeitoso, burocratizado, custoso, ineficiente, corrupto, egoísta, coorporativista, preguiçoso, entre outros adjetivos nada nobres. Tal situação, se não produz, propicia o abuso e o avanço particular, muitas vezes de caráter duvidoso, sobre o terreno sem dono.

Uma forma republicana de combate à corrupção seria um investimento social generalizado de atenção e esforço numa agenda pública consistente que envolvesse a provisão universal de bens públicos de qualidade à sociedade brasileira, incluindo, principalmente, educação básica, saúde, justiça e segurança. Tamanho desafio correria apenas o risco revolucionário de constituir uma nação verdadeiramente republicana, inculcar o espírito cidadão em nossa sociedade e fixar ideais de igualdade e justiça social à identidade política brasileira. Estaremos preparados para tanto?

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