terça-feira, 18 de outubro de 2011

O bem que não faz uma tradição e a inauguração do Memorial Martin Luther King, em Washington

No último domingo, foi oficialmente inaugurado em Washington o Memorial Nacional Martin Luther King, Jr. A estátua central de nove metros, feita de granito, foi construída próxima ao local onde o líder negro proferiu o discurso histórico "Eu tenho um sonho", na marcha de 1963.

O parque – como são chamados nos Estados Unidos os Parques Memoriais (Memorial Parks) – fica no National Mall, uma área aberta que vai do Memorial Lincoln ao Congresso americano e que inclui, entre outros, o Memorial aos Veteranos do Vietnã, os Jardins da Constituição, o Memorial da Segunda Guerra Mundial e o monumento a George Washington.

A cerimônia de abertura estava inicialmente programada para agosto, mas, por causa do furacão Hurricane, foi adiada para o último dia 16. Contou, claro, com a presença do presidente Barack Obama. "Um terremoto e um furacão podem ter adiado este dia, mas este dia não nos seria negado", disse Obama, aos pés da estátua.

Para o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, a ocasião não poderia ser mais propícia. Com belas palavras mas baixos índices de popularidade – em torno dos 50% de aprovação –, Barack Obama invocou o espírito de Martin Luther King para mobilizar sua base política a enfrentar uma situação marcada por graves problemas econômicos, incluindo alto desemprego, e sinais de turbulência política, como nas "ocupações" que começam a se espalhar pelo país.

Foi assim com Carter, foi assim com George Bush (o pai). Os dois são os únicos da era pós-Roosevelt que não se elegeram como incumbentes, ou seja, disputaram a segunda eleição como presidentes mas perderam. Nos Estados Unidos, pleitos em épocas de instabilidade econômica costumam complicar a vida de quem está na Casa Branca.

"Nós vamos superar", disse Obama, em seu discurso. Ao lembrar que ter um negro na Presidência não é o bastante, Barack Obama ressaltou a continuidade do ativismo político de Martin Luther King, que se manteve vivo mesmo após a aprovação das leis nacionais que garantiram os direitos dos negros nos Estados Unidos: o Ato de Direitos Civis, de 1964, e o Ato de Direitos de Voto, de 1965. Em sua fala, o presidente utilizou um recurso típico das pregações nas igrejas do Sul – Martin Luther King nasceu em Atlanta –, a repetição da forma "Let us", abreviado para "Let's" ou "vamos", em português.

"King disse: vamos pegar essas vitórias e seguir em frente com a nossa missão, conquistar não somente a igualdade política e social, mas também a justiça econômica. Vamos lutar por salários dignos, escolas melhores e emprego para aqueles que querem trabalhar. Martin Luther King se recusava a aceitar o "é" do presente. Lutava sempre pelo "deve ser" do amanhã".

"As dificuldades que estamos passando não são nada perto daquelas enfrentadas por Martin Luther King e seus companheiros de marcha 50 anos atrás. Se mantivermos nossa fé, em nós mesmos e nas possibilidades desta nação, não há desafio que não possamos superar", completou o presidente.

O desafio das eleições de 2012 não vai ser nada fácil. Os problemas econômicos dos Estados Unidos não têm solução de curso prazo porque estão ligados a um modelo antigo e há muito tempo questionado calcado no aumento constante da dívida pública do país. Pode-se amenizar aqui e ali mas não resolver de uma hora para outra porque se trata de uma questão estrutural, do modelo adotado pós-1971. Nesse contexto, o alto desemprego pode pesar muito contra a administração atual. Por outro lado, a dificuldade dos republicanos de encontrar um candidato minimamente legítimo entre as múltiplas facções do conservadorismo americano trabalha a favor dos democratas.

Para além das eleições, a simbologia política em torno de Martin Luther King é, neste momento, mais que bem-vinda ao coração da cultura política americana. Ideais de justiça cristã calcados no espírito da não-violência podem não ser um sucesso eleitoral hoje nos Estados Unidos, mas são uma semente de humildade propícia ao universo de uma potência gigante em dificuldades. Talvez a única opção.


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Veja no canal:

- O discurso de Obama
- O discurso de Martin Luther King, "Eu tenho um sonho"

Veja também vídeo da BBC sobre o Memorial Martin Luther King.

Leia Um apelo à consciência: Os melhores discursos de Martin Luther King, da editora Zahar.

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