quinta-feira, 20 de março de 2014

Os rumos da história

O que está por trás da polarização política na Venezuela.

O site FiveThirtyEight, editado pelo estatístico americano Nate Silver, famoso pelos prognósticos para o campeonato de baseball e as eleições presidenciais nos Estados Unidos, publicou agora em meados de março uma excelente análise de Dorothy Kronick sobre o que está por trás da excessiva polarização política na Venezuela. A autora é estudante de doutorado na Universidade Stanford.

A partir do diagnóstico de que são as classes média e alta que protestam hoje contra o presidente Nicolás Maduro, e não a classe mais baixa, a autora pergunta: se ambos os grupos sofrem com o atual racionamento de alimentos, altíssima inflação e um perigoso contexto de violência social, o que os divide em relação ao governo em Caracas? Para Kronick, a resposta está no fato de que detratores e defensores do atual governo venezuelano avaliam o chavismo de forma diferenciada. Enquanto aqueles pró-oposição comparam a situação atual da Venezuela com o desenvolvimento histórico recente de outras nações latino-americanas, partidários do regime bolivarista analisam o momento em relação ao passado pré-Hugo Chávez.

Nesse contexto, Kronick lembra que, após a bonança dos anos 1970, os choques do petróleo e as crises dos anos 1980 e 1990 geraram um "pesadelo econômico". Nesse sentido, em relação ao desastre anterior, a Venezuela demonstrou recuperação após a chegada do socialismo bolivariano. A renda subiu e a pobreza caiu, como mostram os gráficos 1 e 2 abaixo, com base em informações do Banco Mundial e do Banco Central venezuelano.

Gráfico 1


Gráfico 2

Não à toa aqueles que apóiam o governo temem o retorno dos tempos pré-Chávez. Quinze anos depois da revolução bolivariana, o slogan político governista "No volverán" se mantém forte para boa parte da população venezuelana. No entanto, mesmo o sucesso pode ser relativizado e aí surgem as bases para a discordância. Afinal, o preço do petróleo, que girava em torno de US$ 10 nos anos 1980 e 1990, explodiu na virada do século, como mostra o Gráfico 3 abaixo. Frente ao aumento impressionante do preço do principal produto venezuelano pergunta-se: foi o regime bolivariano tão bem sucedido assim?

Gráfico 3

Na comparação com o desenvolvimento de outros países da América Latina, a Venezuela não vem se saindo bem. Os gráficos 4, 5 e 6 mostram isso, no que diz respeito à média do crescimento do PIB per capita entre 1999 e 2012 (Gráfico 4), à inflação média anual no mesmo período (Gráfico 5) e à média anual de redução da mortalidade infantil no intervalo (Gráfico 6). As colunas em vermelho representam a posição venezuelana em meio a outras nações do continente.

Gráfico 4

Gráfico 5

Gráfico 6

Nesse contexto, para Dorothy Kronick, o que poderia ajudar os venezuelanos hoje seria algum tipo de aprendizado recíproco. Em especial, segundo a autora, sobre o que dizem os dados comparativos com o desenvolvimento histórico recente de outros países da região. Por um viés mais político, no entanto, pode-se dizer que os números são apenas uma parte de um impasse no qual estão presentes questionamentos legítimos sobre a capacidade da democracia liberal venezuelana de construir um ambiente com padrões mínimos de justiça social e a possibilidade do regime bolivarista de se constituir em um poder não só eficiente em termos de governância como realmente democrático e regido por padrões mínimos de igualdade cidadã em sua ação.

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