segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A crise no Rio

Sobre a situação no Rio de Janeiro, o blog recomenda os textos de Luiz Eduardo Soares, "A crise no Rio e o pastiche midiático", publicado em seu blog, e do deputado estadual Marcelo Freixo, "Não haverá vencedores", publicado na Folha de São Paulo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Desafios gerais do governo Dilma

Em um último artigo sobre as eleições enviado na semana passada para o site openDemocracy, escrevi que Dilma Rousseff terá três desafios importantes pela frente em seu governo: 1) dar continuidade ao que o cientista político André Singer chama de "lulismo", ou seja, a capacidade de Lula de se colocar para as classes mais baixas como uma opção política de ascensão social sem confronto;  2) enfrentar os próprios limites do "lulismo", que avançou nas questões da renda, do consumo e do emprego mas não se mostrou capaz de atacar da mesma forma os problemas nas áreas da educação básica, da saúde e da segurança, ou seja, a velha questão da insuficiência dos bens públicos no Brasil; e, finalmente, 3) encarar as dificuldades que o ambiente econômico internacional apresenta e que não devem cessar no curto prazo.

Sobre o primeiro ponto, a questão passa pelo fato de que Dilma Rousseff já enfrenta e vai enfrentar ao longo de todo seu governo as pressões de uma ampla coalizão de governo que vai dos setores mais conservadores do Partido Progressista até os mais à esquerda do Partido dos Trabalhadores, algo que só foi possível de ser construído graças ao carisma e ao capital político de seu antecessor. Nesse sentido escrevi: "The challenge to her is to keep control of her own agenda while balancing the forces around her and maintaining popular support. This would be formidable work for anyone; the example set by Lula makes it even more so."

O segundo ponto diz respeito aos limites do "lulismo". Trata-se aqui de uma "revolução capitalista". Lula e o PT vêm da periferia do núcleo do capitalismo brasileiro: a cidade de São Paulo. De fato, por meio de um olhar marxista, não é difícil perceber que, de uma certa forma, a polarização entre o PT e o PSDB que vem dominando a política brasileira é, na verdade, uma extensão da luta de classes paulista. Não à toa, o grande sucesso do governo Lula tem por base o crescimento da renda, do consumo e do emprego formal. Setores como educação básica, saúde e segurança pública não tiveram o mesmo peso durante esses últimos oito anos – e aqui a questão das responsabilidades federativas serve apenas de álibi para a ineficiência. Também não surpreende que no mesmo momento em que o FMI afirma que o Brasil será a sétima economia do mundo em 2011, um relatório das Nações Unidas relata que um brasileiro médio passa 7,2 anos na escola, o mesmo período que um cidadão médio do Zimbábue, que tem o pior IDH do planeta. 
     
"The third challenge will be the pressure of the international economic situation", escrevi. "The United States and Europe are in poor economic shape, and this creates problems for the global economy as a whole, Brazil included. A major problem here is the appreciation of the Brazilian currency; this is reflected in Dilma Rousseff’s attendance with Lula at the G20 meeting in Seoul on 11-12 November 2010, where currency values were high on the agenda of world leaders. The continuing recession and/or slow growth abroad that will also probably force the Brazilian economy to give priority to the domestic market, which in turn will create inflationary pressures and thus measure the administration's commitment to fiscal responsibility. A zero-sum game between steep interest-rates and inflation would be especially harmful in Brazil, which already has perhaps the highest real interest-rates in the world."


O artigo completo pode ser acessado aqui.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Música do mundo Podcast - Novembro de 2010 e toda a coleção

Bem-vindo ao Música do Mundo Podcast, edição de novembro de 2010. O programa deste mês tem em torno de 25 minutos, pesa 33 megabytes e está no formato mp3. Seu download dura menos de 5 minutos. Como sempre, a dica para baixar o arquivo é utilizar o botão direito do mouse, no PC, ou o 'control+mouse', no mac, e pedir o download. Para ouvir, basta clicar.


O podcast começa com duas parcerias do hip hop brasileiro. Na primeira, Veiga & Salazar (Featuring Max B.O.), em "Ontem já era". Na segunda, Ginger Ale vs Z'Africa Brasil, com "Hip Hop não para".


Depois, a cantora do Benin vencedora do Grammy Angélique Kidjo, com "Battu", de uma coleção da Putomayo. Em seguida, o congolês Papa Wemba (& M.Munan), com "Le Voyageur", da trilha sonora da obra prima de Bertulucci, Assédio/Besieged. Na penúltima faixa, Yasser Habeeb, dos Emirados Árabes. A música chama-se "Elama". Para terminar, o velho e bom Sting, com a música "Brand New Day", do álbum homônimo.


O arquivo está disponível aqui.


Aproveito para disponibilizar a coleção completa de todas as edições do Música do Mundo Podcast, desde aquela de maio de 2010, incluindo a de setembro, que não foi colocada no ar na época em função das eleições.
O arquivo n. 10, de outubro, está disponível aqui. (veja lista das músicas)
O arquivo n. 9, de setembro, está disponível aqui
O arquivo n. 8, de agosto, está disponível aqui. (veja lista das músicas)
O arquivo n. 7, de julho, está disponível aqui. (veja lista das músicas)
O arquivo n. 6, de junho, está disponível aqui.
O arquivo n. 5, de maio, está disponível aqui.


Um abraço,
Arthur
www.ituassu.com.br

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Em jogo, o poder de negociação de Barack Obama

A vitória histórica dos republicanos nas eleições de meio de mandato deste ano traz uma nova dificuldade para o governo Barack Obama nos Estados Unidos. Como se não bastasse um cenário econômico desolador – o crescimento em taxa anualizada de 2% do PIB anunciado em 29 de outubro para o terceiro trimestre deste ano é, segundo a Economist, suficiente apenas para evitar o crescimento do desemprego no país e não melhora a vida dos 8 milhões de trabalhadores que perderam seus postos durante a última recessão –, Obama terá que lidar a partir de janeiro de 2011 com uma ampla maioria republicana na Câmara dos Representantes, bem como com um país majoritariamente comandado por governadores do Grand Old Party (GOP).

Mesmo que a tendência normal é de que a primeira eleição de meio de mandato seja desfavorável ao incumbente – explicada pelo fato de que as muitas expectativas lançadas na eleição dificilmente são contempladas –, a vitória republicana alcançou resultados históricos. Com a ajuda da mobilização levada à frente pelo movimento tea-party, os republicanos angariaram pelo menos 60 cadeiras na Câmara dos Representantes (alguns resultados ainda estão indefinidos em função de recontagens), o que dá ao partido a sua maior representação na Casa desde 1940. Os democratas tinham 255 representantes na Câmara antes da eleição, agora têm 186. Os republicanos tinham antes 178. Agora, 239. Além disso, a importante maioria democrata no Senado perdeu pelo menos seis assentos. Agora são 53 democratas contra 46 republicanos (um assento ainda está indefinido e pode ficar nas mãos dos republicanos). No âmbito dos estados, os democratas governam agora 17, e os republicanos, 29 (um governador é independente e em três estados o resultados das últimas eleições ainda não foi definido).

O balanço geral do pleito assume uma conotação ainda mais negativa frente à tendência jeffersoniana de Barack Obama de priorizar a agenda doméstica em detrimento de ambições internacionais, já discutida em outro post. Na ocasião, escrevi, seguindo a análise de Walter Russell Mead: "Jeffersonianos, como Barack Obama, são partidários da vida simples, de governos sem grandes pretensões. Não gostam das máquinas públicas de guerra, de intervenções exageradas e muitos compromissos internacionais. Acham que a melhor política externa dos Estados Unidos é servir como exemplo para outras nações, construindo uma vida social justa, pacífica e livre. Os camponeses de A vila, de M. Night Shyamalan, são jeffersonianos típicos. Bem como foi a luta de Mark Twain contra a ocupação americana das Filipinas no final do século XIX, muito bem retratada em seu livro Patriotas e Traidores, publicado no Brasil pela Fundação Perseu Abramo".

Nessa situação, presidentes têm basicamente duas opções, ainda mais em cenários de crise e na intenção (e sob pressão) de implementar reformas: buscar pautas consensuais e fazer acordos em questões possíveis atrás do apoio de adversários moderados ou acusar o partido adversário de criar um impasse no governo, de usar a (precária) situação do país em prol de benefícios políticos próprios. No primeiro caso, há o risco de se descontentar o eleitorado próprio. No segundo, o eleitorado em geral pode interpretar o posicionamento do presidente como descaso ao que foi decidido no voto. Em 1994, Bill Clinton conseguiu negociar com um Congresso de maioria republicana, mas o ex-presidente não enfrentou uma maioria tão ampla e um movimento conservador em efervecência como o tea-party, que certamente irá patrulhar as ações de republicanos mais moderados no Congresso. Além disso, são conhecidas as excepcionais credenciais de Clinton como negociador.

Nesse contexto, pesa o fato de que várias decisões sobre o orçamento do governo americano terão que ser tomadas nos próximos meses. Uma oposição republicana ferrenha pode significar mais dificuldades para o governo Obama implementar novas medidas de estímulo à economia como forma de recuperação da crise recente. Obama tem tentado a fórmula clássica keynesiana à la Roosevelt com o intuito de retomar o ritmo de crescimento, em detrimento do enorme déficit fiscal. Segundo muitos republicanos, as políticas não têm demonstrado efeito e, para uma boa parte do partido, está na hora de conter os gastos e apostar mais na iniciativa privada.

O problema para os republicanos e o que pesa a favor de Obama é que o partido não está unido sobre como seguir em frente depois da vitória acachapante nas eleições de meio de mandato. Boa parte das análises afirmam que a liderança mais experiente republicana teme que a postura dos mais radicais acabe prejudicando o partido nas eleições de 2012, com propostas como a extinção de certas agências do governo e o endurecimentos contra os imigrantes ilegais e ampla resistência em relação aos debates sobre meio ambiente e o casamento gay. Provavelmente, essa divisão ficará ainda mais clara quando tiver início o processo de escolha do partido para as presidenciais de 2014.