quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O pré-candidato republicano e a perigosa insistência no erro

Principal pré-candidato republicano às presidenciais norte-americanas de 2012, o ex-governador do estado de Massachussets Mitt Romney apresentou suas idéias sobre como deve ser a política externa dos Estados Unidos caso seja eleito: muito perigosa e completamente equivocada.

Em seu primeiro grande discurso sobre o tema, proferido no último dia 7 de outubro, para uma platéia de cadetes, em Charleston, na Carolina do Sul, Romney ressaltou a necessidade dos Estados Unidos reforçarem sua posição militar e econômica no mundo, no intuito do país liderar o que chamou de "O século americano". Em uma pesquisa IPSOS/Reuters divulgada no dia 13, Mitt Romney aparece em primeiro lugar entre os pré-candidatos republicanos com 23% da preferência do partido, na frente do surpreendente Herman Cain, que tinha 7% quatro meses atrás e agora surge com 19%. (Do lado democrata, o presidente Barack Obama tem hoje seu trabalho desaprovado por 53% dos entrevistados pelo Gallup.)

"Este é o momento da América. Nós devemos enfrentar este desafio e não evitá-lo. Não devemos nos fechar numa concha isolacionista, acenar uma bandeira branca da rendição ou nos contentar com aqueles que dizem que o nosso tempo se foi", afirmou Romney, procurando se diferenciar no tema tanto de Barack Obama como de outros pré-candidatos republicanos mais próximos do isolamento. "Se você não quer a América como a nação mais forte do planeta, então não sou seu presidente", disse o candidato.

Romney também listou algumas ações específicas de política externa que levaria à frente nos 100 primeiros dias do seu governo: reforçar o poder naval dos Estados Unidos com o investimento na construção de embarcações militares; incrementar as relações de Washington com países aliados como Israel, Grã-Bretanha e México; ampliar os mecanismos de contenção contra o programa nuclear iraniano; rever o programa militar do escudo anti-mísseis, o "Guerra nas Estrelas", bem como a estratégia norte-americana no Afeganistão; e iniciar uma campanha de incentivo às relações econômicas do país com a América Latina.

"Em um século americano, a América possui a economia mais forte do mundo e o poder militar mais forte do mundo", afirmou Mitt Romney. "Em um século americano, a América liderará o mundo livre e o mundo livre liderará o planeta".

Mesmo se tratando de retórica de campanha, o discurso apresenta um retrocesso claro e perigoso em relação ao posicionamento mais realista e cauteloso da administração Barack Obama. Nessas horas, é difícil não lembrar de Paul Kennedy e sua obra clássica: "Ascensão e queda das grandes potências".

Afinal, os Estados Unidos se encontram hoje em meio a uma crise econômica grave e de difícil solução tendo em mãos um arsenal militar de proporções gigantescas. Esse paradoxo aliado a uma retórica nacionalista agressiva como a de Mitt Romney pode gerar a tentação do uso da força - se já não foi assim com George W. Bush - como forma de se manter a posição relativa do país ou sua influência no sistema político internacional. O grande perigo disso tudo é que tal situação não será somente catastrófica para os norte-americanos, e levará de vez a nação à decadência, mas para todos nós.

2 comentários:

  1. Esse discurso me soa populista, se é que isso pode ser percebido em líderes fora da América Latina. E um pouco ditatorial, lembrando nosso velho slogan "Brasil: ame-o ou deixe-o".

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  2. oi Juliana, obrigado pela leitura e pelo comentário. Você pode ter razão sobre um certo caráter populista e autoritário no discurso, apesar de que tenho dúvidas sobre o primeiro, dado que se trata de um conceito histórico muito específico. No entanto, acho que podemos dizer que se trata de um nacionalismo específico que reforça uma certa identidade agressiva com o "outro" e o contexto ao redor e pode gerar, claramente, situações de restrição à liberdade.
    Um abraço e obrigado novamente,
    Arthur

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