terça-feira, 25 de outubro de 2011

Rara lucidez tardia sobre a morte de Kadafi

O professor Stephen Walt, da Escola Kennedy de Governo, na Universidade Harvard, pode ter demorado um pouco, como mesmo escreveu em seu blog, para reagir à morte de Muammar Kadafi. Mas, como na maioria dos casos em torno do texto e do pensamento, o "atraso" pouco importa, ainda mais quando o autor está tão perto da lucidez.

Walt faz um apanhado de pontos positivos e negativos sobre o desfecho da crise na Líbia. Segundo ele, se a morte de qualquer ser humano não deve ser motivo de celebração, não há motivos também para o luto. Afinal, trata-se do fim de um "ditador brutal e megalomaníaco" que não hesitava em eliminar qualquer tipo de oposição, apoiou ações terroristas dentro e fora de seu país e apropriou-se indevidamente das riquezas nacionais líbias, em detrimento das condições de vida da população. Nesse contexto notório de atrocidades, não é de se admirar a revolta de muitos – inclusive deste autor – ao ver mais de uma vez o presidente Lula às voltas com o ditador.

Da mesma forma, Walt chama a atenção para o relativo sucesso da intervenção estrangeira na Líbia, feita de forma pontual e com a participação de várias potências e não somente dos Estados Unidos. "A decisão de intervir pode ter reforçado a percepção de que os Estados Unidos apóiam as mudanças democráticas no Oriente Médio e manteve vivo o momentum da Primavera Árabe", afirmou Walt. O fim de Kadafi deve também causar algum impacto sobre outros ditadores da região e pode levar alguns deles a procurar uma saída segura em vez de correr o risco de ir até o fim e acabar como o ex-líder líbio.

Para completar os benefícios do desfecho, um julgamento duradouro e prolongado de Kadafi, segundo Walt, ocuparia muito tempo e energia dos líbios, que agora podem se dedicar ao máximo à difícil missão de levar à frente a reconstrução da ordem política no país.

No entanto, além dos pontos positivos, Stephen Walt faz uma lista de cinco questões que tamém devem ser consideradas. Em primeiro lugar, pesa o fato de que Kadafi concordou em 2003 em abrir mão do desenvolvimento de armas nucleares em troca de uma promessa dos Estados Unidos de não derrubá-lo. No mesmo sentido, Kadafi passou a ganhar uma atenção maior de Washington e também de Londres com um comportamento internacional mais moderado, que incluía uma posição contrária ao terrorismo. Nesse contexto, mais uma vez sai fortalecida a idéia de que possuir armas nucleares é o único meio de governos de legitimidade duvidosa de dissuadir as grandes potências, em especial os Estados Unidos, de levar à frente ou apoiar processos de mudança de regime.

Em segundo lugar, se a queda de Kadafi pode ter gerado a percepção de que Washington apóia a Primavera Árabe, deixa claro também o posicionamento ambíguo dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio. Afinal, a Casa Branca negociou no passado com um suposto Kadafi reformista e não condena da mesma forma todos os governos e todas as atrocidades cometidas por líderes da região, fazendo vista grossa notória em alguns casos.

Em terceiro lugar, os Estados Unidos e a Otan, segundo Walt, claramente excederam o mandato dado pelo Conselho de Segurança da ONU no que diz respeito à intervenção na Líbia, e os custos desse comportamento devem ser cobrados no longo prazo, em especial por Pequim e Moscou.

Além disso, o futuro da Líbia é mais que incerto, afirma o especialista. Nesse contexto, Walt espera que os erros cometidos no Iraque e no Afeganistão sejam evitados. "Potências estrangeiras podem ajudar na derrubada de certos governos, mas o destino de qualquer país está nas mãos de seus cidadãos", afirma.

Finalmente, a máxima que fica segundo Walt, em referência a Tucídides, não é das melhores para o sistema internacional. "In the end, the strong did what they could, and the weak suffered the consequences".

2 comentários:

  1. maybe i'm filling the sak, but heer goes a last comment:

    o kadafi matou dicident, pra ficar no poder, mas mulher podia andar do jeito que queria (ao contrario de outros países da regiao muito amigos dos states), você podia (e pod) tomar um café sentado e fumar um cigarro (o que na maior part da europa nao é mais pocivel), e essa historia de que ele roubou a populaçao pra se enriquecer, hm. a libia é o unico país da regiao que nao tem defasagem de renda per capita e IDH (quer dizer, até tem, mas positiva (2 pontos no ranking), ou seja, é mais justo que a média dos países do mundo.

    claro, os países da otan tinham que retratar ele como um vilao sem igual, pra justificar o atac (nao que eu foce contra, ou a favor). e agora eu vou dormir, que ja sao cuase 2 horas...

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  2. Zedorock,

    Mais uma vez obrigado pelos comentários. Aqui eu comentaria também que ditaduras muitas vezes são justificadas por dados econômicos ou avanços em determinados setores que lhes garantem um grau relativo de legitimidade interna, mas, ao meu ver, não deixam de ser ditaduras.
    Um abraço,
    Arthur

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