quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Tragédia via controle remoto

Documentos divulgados pelo Washington Post mostram que governo paquistanês apóia ataques de aviões não-tripulados americanos em seu território.

O Washington Post divulgou, no último dia 23 de outubro, documentos que comprovam a ciência e a aprovação do governo do Paquistão aos ataques de aviões não-tripulados americanos (drones) em seu território. A notícia vai de encontro às inúmeras declarações oficiais de Islamabad pedindo o fim das ofensivas, que se tornaram uma ação-chave do governo Obama em sua estratégia contra o terrorismo. Junto ao encontro do presidente americano com o primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif, ocorrido também no último dia 23, em Washington, a divulgação dos documentos chama a atenção para o trágico e polêmico uso de drones como forma de combate a organizações terroristas na regiâo.

Um relatório da Anistia Internacional, por exemplo, divulgado na véspera do encontro entre Obama e Sharif, condena veementemente o uso de aviões não-tripulados contra possíveis terroristas no Waziristão do Norte, região tribal do noroeste paqustanês que faz fronteira com o Afeganistão. A Anistia conta, por exemplo, a história de Mamana Bibi, de 68 anos, morta em um bombardeio quando colhia vegetais no jardim da sua casa, em outubro de 2012.

Um estudo da ONU vai no mesmo caminho e afirma que os drones americanos já mataram pelo menos 400 civis no local. Outro do Bureau of Investigative Journalism, organização não-governamental britânica, calcula que entre 407 e 926 civis morreram em ataques desse tipo.

Com base nesses e outros números, o estúdio californiano Pitch Interactive produziu um website, ilustrativo da tragédia. Segundo as informações no site, mais de 3 mil pessoas, incluindo 175 crianças, morreram em 372 ataques por controle remoto entre 2004 e 2013 no Paquistão. Nesse contexto, não espanta que, segundo reportagem da Bloomberg, os gastos com aviões não-tripulados podem chegar a quase 90 bilhões de dólares nos próximos 10 anos, com despesa anual atingindo valores superiores aos 10 bilhões de dólares, duas vezes o que é investido hoje por ano no desenvolvimento dessa tecnologia nos Estados Unidos.

Na mesma semana da divulgação pelo Post dos documentos, da visita do premier paquistanês a Washington e do lançamento do relatório da Anistia Internacional, o Huffington Post publicou ainda uma entrevista com um ex-funcionário do Departamento de Estado americano no Iêmen, outro país-alvo dos drones americanos. Segundo a fonte, cada ataque desse tipo no país cria de 40 a 60 novos inimigos dos Estados Unidos na região.

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