sábado, 19 de outubro de 2013

Democracia digital e cultura política

Simpósio internacional debate internet e participação política cidadã.

A participação política do cidadão é um dos temas mais discutidos entre pesquisadores da chamada democracia digital, e-democracia ou ciberdemocracia, que, resumidamente, trata da análise, do uso e desenho de iniciativas digitais em prol do incremento da política em regimes democráticos. A discussão, por exemplo, esteve muito presente no II Simpósio Internacional Brasil-Alemanha sobre Política e Internet: "Democracia na Era Digital", realizado no Instituto Goethe em Salvador, nos últimos dias 17 e 18 de outubro, promovido pela instituição alemã e o Centro de Estudos Avançados em Democracia Digital (CEADD) da Universidade Federal da Bahia (FACOM/UFBA).

O tema ganha ainda mais importância quando pensado a partir de um contexto específico, marcado por fenômenos como a queda no comparecimento às urnas – inclusive onde o voto é obrigatório –, o sentimento de baixa efetividade da cidadania na decisão política, o descolamento entre o sistema político e o cidadão, o desinteresse na política, uma visão muito negativa da política e dos políticos, o baixo capital político da esfera civil, a ausência de soberania popular, a falta de espaços deliberativos, a baixa representatividade no debate público etc.

Não à toa, já são muitas as iniciativas digitais dispostas na rede, com o intuito de "empoderar" o cidadão na política de sua cidade, seu estado, seu país, inclusive de seu planeta, como nos temas do meio ambiente, da energia nuclear ou dos direitos humanos. Tais iniciativas são originadas tanto de governos, como é o caso do Gabinete Digital, no Rio Grande do Sul – experiência referência hoje para projetos semelhantes no mundo todo –, como da própria sociedade civil, como o Votenaweb, que procura aproximar o cidadão brasileiro do que se passa no Congresso Nacional, ou o Avaaz, que serve como plataforma mobilizadora em favor de determinados projetos de lei.

Ao mesmo tempo, no entanto, algumas dúvidas pairam sobre o potencial da comunicação política via internet. Alguns autores, por exemplo, afirmam que a internet não torna ninguém mais politizado, apenas serve de instrumento para aqueles que já são engajados. No mesmo sentido, algumas pesquisas sugerem que as redes sociais favorecem uma reunião daqueles que concordam entre si e que isso pode acabar enclausurando o cidadão em ambientes de baixa contestação. Da mesma forma, alguns críticos temem que a cidadania digital acabe por esvaziar de vez a participação fora da rede e que o cidadão fique restrito ao ativismo do tipo "clique no mouse".

Além disso, há o avanço das empresas e da lógica comercial sobre o terreno, que tem sido levantado como um risco nada desprezível, haja vista o que ocorreu na mídia de massa tradicional. Como se não bastasse, a infraestrutura de cabos, fundamental à comunicação digital, também é dominada por empresas e concentrada nos países mais ricos, em especial entre os Estados Unidos e a Europa, o que por si só já gera um acesso diferenciado à experiência na rede.

Entretanto, apesar dos desafios, a internet traz sem dúvida um potencial de transformação da comunicação política nas democracias contemporâneas em favor de uma cultura mais participativa, em especial com relação aos mais jovens. Afinal, aquele cidadão passivo que cumpre somente o papel de "receptor" das mensagens veiculadas no formato "grade de programação" tende a ficar para trás, no tempo e na história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário