sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Endividamento, consumismo e desigualdade de oportunidades no Brasil

Em artigo encomendado pela seção Comment is Free do jornal britânico The Guardian, editado por Jessica Reed, resolvemos tratar de três temas que, na minha opinião, se escondem por trás do recente sucesso econômico brasileiro, bastante comentado, em especial lá fora: o endividamento crescente das famílias, o consumismo desenfreado e a perene desigualdade de oportunidades na sociedade brasileira.


Com relação ao endividamento das famílias no Brasil, chamei a atenção para um relatório recente da Fecomercio. A pesquisa mostra que a taxa média de endividamento das famílias nas capitais brasileiras é hoje de 65%, chegando a 88% em Curitiba, por exemplo. Em Natal, apresenta o relatório, 40% da renda das famílias está hoje, em média, comprometida com dívidas. Em 2010, 10 estados brasileiros possuíam taxa média de endividamento das famílias acima de 70%. Até maio de 2011, o mesmo ocorria em 15 estados.


Sobre o consumismo, apontei para duas consequências negativas possíveis: a dependência da economia do alto consumo das famílias (e também do governo) e os riscos ao meio ambiente de uma prática de consumo industrial descontrolada. O Brasil hoje é o quinto maior mercado de carros do mundo e os engarrafamentos crescem em todas as grandes capitais do país. A expectativa é de que as famílias brasileiras consumam quase 2,5 trilhões de reais em 2011, um aumento de cerca de 250 bilhões de reais em relação ao ano passado.


Nesse sentido, chamei a atenção para a questão da obesidade. Em 2006, 11,4% da população, segundo o Ministério da Saúde, sofria com obesidade. Hoje esse número chega a 15%. Metade da população está acima do peso. Nos próximos dez anos, no ritmo atual, serão 60%.


No que diz respeito à desigualdade de oportunidades, ressaltei um relatório recente da OCDE, amplamente noticiado na imprensa brasileira, que avaliou estudantes de 65 países. O Brasil ficou em 53o lugar, com 401 pontos. Pior que isso, os estudantes das escolas particulares (onde estão somente 15% da população estudantil no país) fizeram em média 502 pontos, enquanto aqueles oriundos das escolas públicas (com exceção dos Caps federais) fizeram em média 387 pontos no exame.


Nesse sentido, sem deixar de reconhecer os avanços na redução da pobreza no país, no amadurecimento econômico e político no Brasil, afirmei que não se trata de ver as atuais transformações como um caminho para o Estado de bem-estar social, como muitos pensam na Europa e nos Estados Unidos. Trata-se de uma revolução capitalista. Uma transformação orientada pelo mercado numa sociedade industrial centralizada fortemente marcada pela burocracia e altamente motivada pelo consumo e pelo materialismo.


Para ler o artigo em inglês clique aqui.

2 comentários:

  1. oi arthur,

    li o seu artigo do guardian no jornal alemao 'freitag', daí queria comentar no guardian mas eles fecharam o site pra comentarios.

    o brasil pode ser um dos piores países no coeficiente gini, mas nos anos 70 ja foi o pior e agora é, pelo que eu me lembro da ultima tabela que eu vi, mais ou menos o número 15. ainda ta ruim, mas ta melhorando. por outro lado, muita gent acha que isso tamem quer dizer que o brasil nao tem clace média, o que é uma conclusao na verdad sem sentido. tem muito país ond o coeficient gini é melhor que no brasil, e mesmo assim tem uma clace media bem menor - simplesment os 10% mais ricos sao bem menos ricos que no brasil.

    além do mais, o coeficient gini é só uma maneira de medir injustiça social. se você comparar por exemplo o ranking na tabela da renda per capita com o ranking no IDH, índice de desenvolvimento social, o brasil é levment injusto, mas tem muito país bem mais injusto, principalment países árabes (a arabia saudita é muito mais injusta neci sentido). na proporçao de bilionarios por BIP, o brasil até ta no grupo dos "justos" - até a alemanha é mais injusta neci sentido, tendo um BIP duas vezis maior, mais 3 vezes mais bilionarios.

    o brasilero pod pagar percentualment tanto imposto cuanto o canadá e a espanha, mais você ta squecendo o exército de jent no brasil ki nao paga imposto, ou seja, no fim o governo arrecada um pouco mais ki necis paísis (tendo uma economia um poukinho maior), mais tem ki prestar serviços pra 190 milhoes di abitants i nao 40 ou 30.

    ecis tests di educaçao como o di pisa só tem um defeito, elis pegam cuasi todos os paísis do primero mundo i alguns do ki eu chamo di sigundo mundo, o tercero mundo nem é considerado. imajina o sport club xique-xique ki talveiz teja jogando bem no campionato baiano, daí ce pega os 20 timis da primera divisao como santos, flamengo, internacional, i mais uns 3 rejonais, i daí ce diz, pô, como eci timi xique-xique é ruim, em? cuasi lanterninha! eu acho ki tem ki comparar o brasil cos paísis do sigundo mundo ou cos paísis do mundo intero, mais comparar uns poucos paísis do sigundo mundo co primero mundo é sacanaj. o brasil é entri nº 60 i 75 na renda per capita i talveiz seja nº 80 im educaçao, mas lembri-si ki ixistim 190 paísis no mundo, ou seja, izistim mais paísis pioris ki o brasil ki melhoris.

    bom nao ta, mais lanterninha di verdad é otra coisa!

    eu nao acho ki a "revolussao" seja basiada im burocracia. ainda tem muinta burocracia nu brasiu, mais sem dúvida ela melhorou muintu nus
    últimus anus (!). oj muinta coisa pod se resouvida pela internet, i cuandu eu fui fazer u meu cpf, fui nu bancu du brasiu, ar condicionadu, tirei uma senha, falei cum cara amigaviu numa mesa (i naum cum funcionariu publicu mau-umoradu num gichê), i menus di meia ora depois u meu cpf tava atualizadu - impensaviu uns 20 anus atrais.

    a "revolussaum" num foi só baziada nu sociau, mais tamen baziada nu sociau. salariu dizimpregu, boussa familia, etc, fizerum cum ki muintu pobri passaci pra claci media baxa i issu abriu um mercadu internu imensu. i acin u braziu ficou menus dependent dus terremotus nu sterior. us 10% mais ricus ficarum 10% mais ricu nus últimus 10 anu, mais us 10% mais pobri ficarum 68% "mais ricu" (o digamus menus pobri). u ke é um fenômenu interessant, afinau a crença jerau era de ke justiça sociau freia u crecimentu economicu.

    só pra ficar claru: apezar das critica, eu axei u artigu bom!

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  2. Zedorock, obrigado pela leitura e comentários.
    Concordo com você na maioria dos pontos, mas, como você mesmo diz, não acho que isso desmereça a crítica, apenas a relativiza.
    Grande abraço,
    Arthur

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