quinta-feira, 10 de abril de 2014

Vem aí: oquefezseudeputado.com.br

No campo da E-Representação, projeto reunirá informações e análises sobre o que fez cada um dos 46 deputados federais do estado do Rio de Janeiro no Congresso Nacional no último mandato.

Uma ampla literatura chama a atenção hoje para alguns problemas presentes mais ou menos de forma generalizada nas democracias contemporâneas. Um resumo das questões normalmente apontadas poderia constar de fenômenos contemporâneos como a apatia do eleitor, a ausência de efetividade da cidadania no que tange aos negócios públicos, o descolamento entre o sistema político e o cidadão, o desinteresse na política, uma visão muito negativa da política e dos políticos, uma informação política de qualidade duvidosa, baixo capital político da esfera civil, ausência de soberania popular e desconfiança generalizada da sociedade com relação à política e ao político.

Nesse contexto, alguns autores chamam a atenção para a simultaneidade entre uma variedade inédita de oportunidades ao alcance do cidadão de acesso e questionamento das autoridades governamentais e um profundo sentimento de frustração e desapontamento com a capacidade do mesmo cidadão de fazer alguma diferença nas decisões políticas. Nesse sentido, algumas pesquisas apontam para um certo “desconforto compartilhado”, uma “crise de descolamento”, como um fenômeno generalizado que afeta, em diferentes graus, democracias novas e consolidadas.

Esse fenômeno, por exemplo, pode ser representado pelo distanciamento entre a classe civil e os partidos, os baixos índices de comparecimento eleitoral, ao menos onde o voto não é obrigatório, e no amplo antagonismo das populações com relação à política e aos políticos. Para alguns autores, ainda colaboram para o contexto de crise a personalização midiática da política sob a figura de lideranças plebiscitárias e as mudanças no mercado de trabalho – que tornaram mais complexas as grandes categorias populacionais. Ressalta-se assim um conjunto de transformações estruturais que vem sendo caracterizado pelo uso do vocábulo “crise”, crise dos partidos, da política, da democracia, da representação.

Fazem parte desse contexto mais amplo questionamentos específicos, relativos à prática da representação política nos regimes democráticos,  Nesse campo, a noção de crise se sustentaria em três conjuntos de evidências: o declínio do comparecimento eleitoral, o aumento da desconfiança em relação às instituições políticas e o esvaziamento dos partidos. Os dois primeiros pontos têm por base os índices de comparecimento eleitoral nos regimes democráticos e as pesquisas de confiança e satisfação do cidadão para com as instituições políticas. O terceiro conjunto de problemas aponta para os partidos políticos, onde a burocratização excessiva das estruturas internas, o estreitamento do leque de opções políticas (com a derrota dos projetos históricos da classe operária) e, em especial, as mudanças que a mídia eletrônica introduziu na disputa política – como a personificação excessiva do debate político, a dramatização da prática política, a redução da política a eventos e espetáculos midiáticos e a formação de um público crescentemente mais consumidor que cidadão – colaborariam para o esvaziamento da relação entre a sociedade civil e as agremiações políticas, instituições clássicas que cumprem, ou ao menos deveriam cumprir, papel importante na mediação da representação política nos regimes democráticos.

Afinal, além dos partidos, outro mediador consagrado em crise, ao menos de legitimidade, são os meios de comunicação, dado que a mídia é hoje o lugar fundamental da difusão de representações do mundo social, o principal instrumento de disseminação das visões de mundo e dos projetos políticos. A questão, assim, passa pelo grau de pluralidade dos discursos veiculados e pelos questionamentos em torno da representatividade das vozes presentes no discurso midiático. Se a diversidade social não está minimamente representada, há um problema para a democracia, e a existência se vê ameaçada pela ausência de voz na disputa pelas representações do mundo social.

Nesse contexto, a lógica comercial das mídias de massa se torna um empecilho, dado que a presença ou não do discurso nos meios é dependente, em geral, de outros critérios, de audiência ou particulares da empresa. Soma-se a isso a percepção de que as decisões sobre esses mesmos critérios são discutidas e tomadas em geral por um grupo restrito de pessoas, normalmente pertencentes a uma mesma categoria econômica, social e cultural específica.

Não à toa, os déficits de democracia são normalmente acompanhados dos déficits de comunicação pública e política presentes também na maior parte dos regimes democráticos contemporâneos. Constantemente, são levantados temas como a competição entre a política e o entretenimento pela atenção do cidadão no ambiente midiático, a reprodução constante pelo jornalismo de uma visão cínica da política, a redução da política a eventos e personalidades, os problemas políticos inerentes ao sistema few to many da comunicação de massa tradicional e a personificação da política favorecida pelo ambiente midiático-imagético. De modo geral, preocupa uma comunicação midiatizada que mais afasta e menos aproxima o cidadão da política, bem como a qualidade da deliberação política mediada pelos meios de comunicação de massa.

É nesse debate que se insere o projeto "O que fez seu deputado" (www.oquefezseudeputado.com.br), a primeira iniciativa digital do COMP: Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio. Concebido com a intenção de contribuir para o potencial de renovação da comunicação política que a Internet oferece às democracias contemporâneas, "O que fez seu deputado" é um projeto de utilidade pública, voltado para o fortalecimento da cidadania e da democracia.

Leia mais em:
ITUASSU, A. Repolitizando a representação: Uma teoria para iniciativas digitais em prol dos processos político-representativos no Brasil. Compolítica, Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política, v.3, n.2, (2013).

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