sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Political Journeys: Derrida em Salvador

Estar em Salvador é como estar na Índia, em especial em Goa, só que mais perto. O susto com a religiosidade exacerbada comum nessas bandas, por exemplo, aparece na capital baiana logo no caminho do aeroporto, com o tamanho da Catedral da Fé, da Igreja Universal do Reino de Deus. As comidas, os cheiros, as pessoas, os sotaques e os termos de todos os cantos do nordeste e do país se espremem entre o mar e o morro em ruas estreitas, que muitas vezes contrastam com as novas construções hipermodernas da parte mais nova da cidade.

E, como os indianos, os soteropolitanos e seus agregados trazem em si uma densidade que não poderia vir de nenhum lugar, mas dali. Em meio a lambretas e todos os tipos de frutos do mar, discute-se, entre outras coisas, o potencial da deliberação para o incremento das democracias contemporâneas, como a internet pode abrigar instituições, manifestações e todo tipo de intenções políticas e que efeitos isso pode trazer para a sociedade.

Nesse metapensamento, o professor Nelson Russo de Moraes, por exemplo, apresentou um trabalho interessante sobre a presença da contabilidade pública municipal na internet. Segundo ele, cerca de dois terços dos maiores municípios brasileiros disponibilizam de forma razoavelmente eficaz suas contas públicas na rede, como preveem as leis de transparência aprovadas no país desde a Constituição de 88 e a redemocratização (como sugiro neste livro, nosso tempo histórico-político parece ser a continuidade de um processo iniciado em meados dos anos 1980).

Apesar da boa notícia, no entanto, a constatação não permite ir muito longe. Numa era sem precedentes de possibilidades no acesso à informação, talvez nunca tenha se visto um cidadão tão apático com relação à política e os políticos. Ora, quem é que vai ficar na internet vendo a planilha das contas públicas do município?

Uma figura possível é o jornalista, em especial o jornalista investigativo, e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo tem feito um trabalho excelente formando, em muitas faculdades e jornais do país, jornalistas investigativos especializados em apurar dados públicos pela internet. Mas o cidadão idealizado, esse que fica à noite na rede "controlando o Estado", não é muito mais que um ente abstrato, metafísico, capaz de mudar a vida social em apenas um clique.

Ao fim, volta-se de Salvador com aquela estranha sensação de que as coisas são por demais complexas, primeiro passo fundamental para qualquer pesquisa científica.

2 comentários:

  1. Como baiana, sinto que esse sentimento de que "as coisas são por demais complexas" fazem com que as pessoas deixem de tentar e se acomodem com o mais conveniente.

    Você fala do jornalista investigativo como agente, e concordo que ele é personagem importante para a mudança. Pena que em Salvador (ou na Bahia, de modo geral) não se leve jornalismo a sério.

    ResponderExcluir
  2. Isso Juliana, também há esse problema, ligado à economia política das mídias locais. Um abraço e obrigado pela leitura, Arthur

    ResponderExcluir