sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Será o fim de Israel?

Artigo do polêmico historiador Benny Morris, expoente dos chamados "novos historiadores" israelenses, publicado em uma edição recente da Newsweek, afirma: o nacionalismo sionista calcado na socialdemocracia e no igualitarismo, como princípio original da fundação do Estado de Israel e do povo israelense, ficou para trás. Para o autor, o país vive hoje "uma profunda crise interna e existencial", e pergunta: Is Israel Over?

O momento não é dos melhores. No campo externo, a Autoridade Palestina promete criar unilateralmente o Estado da Palestina no próximo dia 20 de setembro e buscar reconhecimento na ONU. Dado seu caráter unilateral, o ato pode trazer conseqüências imprevisíveis para a região.

Além disso, há os problemas no Egito. As revoltas recentes no velho aliado despertaram sentimentos antissionistas no país. O ex-ditador/presidente Hosni Mubarak ganhou a pecha de traidor aliado dos judeus, a embaixada israelense foi saqueada e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu teve sua foto estampada em um jornal popular egípcio vestido de oficial da SS nazista, com um bigode no estilo do eterno Belzebu. Além dos problemas no Egito e das incertezas oriundas das revoltas árabes, Israel vive hoje em meio ao desenvolvimento nuclear iraniano, às ameaças do Hamas, na Faixa de Gaza, e do Hisbolá, no Líbano.

Mas também no campo interno os problemas são muitos e o país enfrenta a maior onda de protestos de sua história. Segundo o historiador, a situação está relacionada a um certo desvio de caráter do nacionalismo israelense (não somente do governo israelense), hoje mais próximo da direita, menos focado no igualitarismo, menos liberal e mais restritivo. Com isso, jovens israelenses vão às ruas clamar contra um sistema injusto de impostos, baixos salários e preços altos, em especial no setor da habitação. Segundo Morris, 20% dos israelenses e 15% dos israelenses judeus vivem atualmente abaixo da linha de pobreza. Enquanto os 10% mais ricos do país detêm mais de 30% da renda, os 10% mais pobres ficam apenas com 1.6%. Há fuga de cérebros e de artistas, que se vêem impossibilitados de desenvolver seu trabalho e preferem até mesmo a traumática Berlim a Tel Aviv.

Ainda no mesmo contexto, os políticos são milionários, percebidos como corruptos e alguns julgados por corrupção, como o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert. Bem diferente do exemplo deixado pelo primeiro primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion.

Na verdade, o "outro conveniente" freudiano vem funcionando há décadas dos dois lados em benefício de certas ideologias e correntes políticas, o que ocorre não somente nas políticas israelense e palestina, mas também em muitos países do Ocidente e de maioria islâmica, em suas respectivas escalas. Trata-se de um discurso que possibilita uma dinâmica ideológica e política específica, consolidando identidades em um processo relacionado a um "outro" particular ameaçador. O processo autoriza, legitima e reforça o poder de certos setores sobre o todo "nacional" e implica em determinadas políticas externas e internas para o país.

O resultado de décadas dessa dinâmica são os problemas internos da sociedade israelense e o perigoso contexto "barril de pólvora" ao redor do Estado de Israel, em uma região que serve de núcleo duro de referência para uma série de outros conflitos espalhados pelo planeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário