sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Educação no Brasil promove desigualdade, mostra avaliação inédita

Os resultados de uma avaliação inédita feita sobre o sistema educacional brasileiro, divulgados no fim de agosto, apontam mais uma vez para o descaso absurdo com a qualidade do ensino público no país e as desigualdades que se reproduzem desta situação. A Prova ABC, Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização, uma iniciativa da organização Todos Pela Educação com o Instituto Paulo Montenegro/Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Texeira (Inep), avaliou 6 mil alunos que concluíram o 3o ano (2a série) de todas as regiões do país. Foram aplicados exames de leitura, matemática e redação.

Seguindo a tendência de um relatório divulgado ano passado pela OCDE, já comentado anteriormente, os resultados mostram uma enorme discrepância entre as escolas públicas e privadas no país. Com relação ao exame de leitura, por exemplo, apenas 56% dos alunos avaliados tiveram o desempenho esperado para a sua série, número que se torna ainda mais alarmante quando se percebe que apenas 48,6% dos estudantes oriundos das escolas públicas tiveram o desempenho esperado, enquanto 79% daqueles matriculados nas instituições privadas alcançaram o mínimo.

Ainda no que diz respeito à leitura, os resultados são piores quando se avalia os resultados por região: apenas 39,4% dos alunos de escolas públicas na região Norte e 36,5% no Nordeste alcançaram o mínimo estabelecido pela escala Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). No Sudeste, Sul e Centro-Oeste, as porcentagens foram de 54,4%, 56,5% e 56,8%, respectivamente. Para os alunos das escolas privadas nessas três regiões, o mínimo foi alcançado por 85,1%, 86,8% e 85,5%, respectivamente. Ou seja, pode-se imaginar com facilidade a diferença que se estabelece entre um aluno de escola pública no Nordeste e outro de escola privada no Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

Na matemática, os resultados foram ainda piores. A porcentagem média nacional de estudantes que concluíram o 3o ano e atingiram o mínimo estabelecido foi de apenas 42,8%; 32,6% nas escolas públicas e 74,3%, nas privadas; chegando a 21,9% nas instituições públicas no Norte e 25,2% nas escolas públicas no Nordeste.

Para o exame de redação, apenas 53,4% dos estudantes atingiram o mínimo estabelecido; média de 43,9% quando oriundo das escolas públicas (chegando a alarmantes 21,3% no Nordeste) e 82,4%, das privadas.

Como já insistido diversas vezes, o quadro se torna mais absurdo e esquizofrênico quando é comparado com a carga tributária no Brasil, em torno de 37%/38% do PIB e entre as maiores do planeta, que, apesar das prerrogativas do federalismo brasileiro, não condiz com os vergonhosos salários dos professores da rede pública fundamental e o baixíssimo investimento público médio em educação no país, em torno de US$ 1000 por pessoa em idade educacional, como mostra o especialista e professor Nelson Cardoso do Amaral, da Universidade Federal de Goiás. Países como a Coréia do Sul e a Espanha investem cinco ou seis vezes mais.

No fim, fica a pergunta: no lugar de novos impostos, por que não pensar em novas prioridades?

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