segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Os erros de Serra e do PSDB

As eleições presidenciais deste ano são favas contadas. Com 24 pontos de vantagem sobre José Serra, segundo o Ibope, e 51% da preferência do eleitorado, Dilma Rousseff caminha a passos largos para uma vitória expressiva, que pode vir até mesmo no primeiro turno.

Tamanha facilidade não se deve apenas à popularidade do presidente Lula, que gira em torno de 80% de aprovação. A diferença foi alimentada também por erros gravíssimos cometidos tanto pela campanha de Serra quanto pelo próprio PSDB, que terá obrigatoriamente de se reavaliar.

Em primeiro lugar, é absurdo que um candidato à Presidência pelo PSDB esconda o nome mais importante do partido na história recente: Fernando Henrique Cardoso. Por mais que o argumento "marqueteiro" afirme que FHC não possui uma imagem positiva junto ao eleitorado, cabe ao partido e ao seu candidato à Presidência procurar modificar essa situação. Para que serve o discurso político se uma campanha obedece somente às sondagens?

Por incrível que isso pareça, a rejeição ao governo FHC tem estado presente em todas as campanhas para presidente do PSDB desde 2002. Naquele ano, Serra não defendeu FHC dos ataques da oposição. Em 2006, Geraldo Alckmin foi incapaz de responder à ofensiva contra as privatizações. Em 2010, Serra novamente prefere ter Lula do que FHC ao seu lado.

Que partido é esse que não defende seus quadros mais importantes e sua história? Onde está Mario Covas e seu discurso clássico em que ousou pregar a necessidade de um "choque de capitalismo" para o Brasil, ao se despedir do Senado para disputar as eleições presidenciais de 1989? Onde está Fernando Henrique Cardoso e o Plano Real que puseram abaixo uma inflação que chegou a 20.759.903.275.651% entre abril de 1980 e maio de 1995? Se os candidatos à Presidência do partido têm vergonha do passado da própria legenda, há algo de errado com a escolha deles ou com a própria agremiação, em especial em uma campanha na qual o adversário o tempo todo não se furta de provocar a comparação.

Outro erro fundamental foi o próprio processo de escolha do candidato. Ao se decidir, em uma reunião fechada, mais uma vez por um candidato paulista, como em 2002 e 2006, alijando as pretensões do mineiro Aécio Neves, o PSDB propiciou vários fenômenos políticos negativos. O principal deles é o voto de protesto em Minas, segundo colégio eleitoral do país, onde Aécio Neves e Itamar Franco são favoritos ao Senado, o candidato do popular ex-governador mineiro já aparece à frente do adversário (segundo o Ibope, Antonio Anastasia, do PSDB, tem 35% da preferência do eleitorado, contra 33% de Hélio Costa, do PMDB), mas onde Dilma tem o dobro das pretensões de voto de Serra (51% a 25%).

Além disso, enquanto Dilma Roussef, uma mineira radicada no Rio Grande do Sul, se apresenta como uma candidata de âmbito nacional, Serra ganha o carimbo da elite paulista, vista em boa parte do país como etnocêntrica, mesmo que não ganhe esse nome sofisticado em todas as regiões. Note que a pecha é duplamente negativa: "elite" e "paulista", o que favorece a candidata do governo em muitas regiões onde as pretensões políticas paulistas são vistas com extrema desconfiança.

Somam-se os erros e o resultado é uma campanha sem rumo e um partido sem identidade. Qual o projeto de José Serra para o país? Qual o projeto do PSDB para o Brasil? O que é o PSDB? O PSDB é Lula, mas não FHC?

A reavaliação do partido será obrigatória e o contexto não ajuda. Com a aproximação de Lula e do PT para o centro, o espaço da social-democracia no espectro político brasileiro está ocupado. Uma aliança com o governo, como se cogita, por intermédio de Aécio Neves, pode consolidar a legenda em uma posição subalterna, enfraquecida, sem falar no problema que gera à democracia brasileira com a extinção da oposição propriamente dita.

A manutenção do perfil social-democrata pelo PSDB exigirá a formação e a consolidação de novas bases ideológicas e de apoio. Caso isso não ocorra, o partido arrisca ser lembrado apenas como uma legenda de transição na história política recente do país.

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