segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Desafios gerais do governo Dilma

Em um último artigo sobre as eleições enviado na semana passada para o site openDemocracy, escrevi que Dilma Rousseff terá três desafios importantes pela frente em seu governo: 1) dar continuidade ao que o cientista político André Singer chama de "lulismo", ou seja, a capacidade de Lula de se colocar para as classes mais baixas como uma opção política de ascensão social sem confronto;  2) enfrentar os próprios limites do "lulismo", que avançou nas questões da renda, do consumo e do emprego mas não se mostrou capaz de atacar da mesma forma os problemas nas áreas da educação básica, da saúde e da segurança, ou seja, a velha questão da insuficiência dos bens públicos no Brasil; e, finalmente, 3) encarar as dificuldades que o ambiente econômico internacional apresenta e que não devem cessar no curto prazo.

Sobre o primeiro ponto, a questão passa pelo fato de que Dilma Rousseff já enfrenta e vai enfrentar ao longo de todo seu governo as pressões de uma ampla coalizão de governo que vai dos setores mais conservadores do Partido Progressista até os mais à esquerda do Partido dos Trabalhadores, algo que só foi possível de ser construído graças ao carisma e ao capital político de seu antecessor. Nesse sentido escrevi: "The challenge to her is to keep control of her own agenda while balancing the forces around her and maintaining popular support. This would be formidable work for anyone; the example set by Lula makes it even more so."

O segundo ponto diz respeito aos limites do "lulismo". Trata-se aqui de uma "revolução capitalista". Lula e o PT vêm da periferia do núcleo do capitalismo brasileiro: a cidade de São Paulo. De fato, por meio de um olhar marxista, não é difícil perceber que, de uma certa forma, a polarização entre o PT e o PSDB que vem dominando a política brasileira é, na verdade, uma extensão da luta de classes paulista. Não à toa, o grande sucesso do governo Lula tem por base o crescimento da renda, do consumo e do emprego formal. Setores como educação básica, saúde e segurança pública não tiveram o mesmo peso durante esses últimos oito anos – e aqui a questão das responsabilidades federativas serve apenas de álibi para a ineficiência. Também não surpreende que no mesmo momento em que o FMI afirma que o Brasil será a sétima economia do mundo em 2011, um relatório das Nações Unidas relata que um brasileiro médio passa 7,2 anos na escola, o mesmo período que um cidadão médio do Zimbábue, que tem o pior IDH do planeta. 
     
"The third challenge will be the pressure of the international economic situation", escrevi. "The United States and Europe are in poor economic shape, and this creates problems for the global economy as a whole, Brazil included. A major problem here is the appreciation of the Brazilian currency; this is reflected in Dilma Rousseff’s attendance with Lula at the G20 meeting in Seoul on 11-12 November 2010, where currency values were high on the agenda of world leaders. The continuing recession and/or slow growth abroad that will also probably force the Brazilian economy to give priority to the domestic market, which in turn will create inflationary pressures and thus measure the administration's commitment to fiscal responsibility. A zero-sum game between steep interest-rates and inflation would be especially harmful in Brazil, which already has perhaps the highest real interest-rates in the world."


O artigo completo pode ser acessado aqui.

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