quinta-feira, 2 de maio de 2013

Cidadania na era digital

Relatório divulgado pelo Pew Research Center mostra forte crescimento no uso das redes sociais para a atuação política nos Estados Unidos. Além disso, que a disparidade entre mais e menos educados na participação se eleva no ambiente online.

No último 25/04, o Pew Internet and American Life Project, ligado ao Pew Research Center, divulgou um relatório sobre o engajamento político "na era digital". Os resultados da pesquisa feita entre julho e agosto de 2012, nos Estados Unidos, sobre a participação política do cidadão americano nos 12 meses anteriores, mostram que a internet, em especial as redes sociais, tem sido cada vez mais utilizada para a atuação política. No entanto, mostram também que a exclusão digital será um dos grandes desafios dos regimes democráticos nas próximas décadas.

Segundo a pesquisa, houve um crescimento expressivo, nos Estados Unidos, da atividade política nas redes sociais entre 2008 e 2012. Em primeiro lugar, o número de usuários dessas ferramentas passou de 33% para 69% da população online americana (240 milhões de pessoas ou quase 80% da população total do país). Em 2008, 11% dos usuários (ou 3% da população adulta americana) disseram que utilizaram essas ferramentos para publicar algo relacionado à política. Em 2012, 28% (ou 17% da população adulta) disseram que publicaram links para reportagens ou artigos políticos e 33% (ou 19% da população adulta), que postaram outros tipos de conteúdo político nas redes.

Da mesma forma, em 2008, 12% dos usuários das redes (3% da população adulta) seguiam algum candidato político nesse ambiente. Em 2012 esse número chegou a 20% (12% da população adulta). Além disso, em 2008, 13% dos usuários (3% da população adulta) iniciaram ou se juntaram a algum grupo nas redes sociais que atuava em temas políticos ou sociais. Em 2012, a proporção foi de 21% dos usuários ou 12% da população adulta. Talvez ainda mais importante, 43% dos usuários das redes sociais disseram à pesquisa que decidiram se informar mais sobre um tema político ou social a partir do que leram nesses sites e 18% afirmaram que decidiram se envolver mais em algum tema político ou social depois que leram algo sobre esse tema nas redes sociais.

Segundo o relatório, 39% da população adulta americana ou 66% dos usuários das redes sociais fizeram algum tipo de atuação política nesse ambiente entre julho/agosto de 2011 e julho/agosto de 2012. Coisas como "gostar" ou promover material relacionado à tema político ou social postado por outros usuários (38% dos usuários das redes sociais ou 23% da população adulta), encorajar outras pessoas a votar (35% dos usuários ou 21% da população adulta), publicar seus próprios pensamentos ou comentários sobre assuntos políticos ou sociais (34% dos usuários ou 20% da população adulta), responder ou comentar alguma publicação sobre tema político ou social (33% dos usuários ou 19% da população adulta), incentivar outros a se engajar em tema político ou social (31% dos usuários ou 19% da população), publicar links para reportagens sobre temas políticos ou sociais (28% dos usuários ou 17% da população adulta), participar na rede de algum grupo envolvido em causa política ou social (21% dos usuários ou 12% da população adulta), seguir um político eleito ou candidato (20% dos usuários ou 12% da população adulta).

Em resumo, a pesquisa analisa o engajamento cidadão nos Estados Unidos a partir de quatro conclusões. A primeira afirma que 49% dos adultos entrevistados fizeram parte diretamente de um grupo cidadão ou de uma atividade cidadã nos 12 meses anteriores à sondagem, realizada em julho/agosto de 2012. A segunda, que 39% dos adultos entrevistados contactaram políticos eleitos ou administradores públicos ou se manifestaram em algum fórum público no mesmo período. A terceira sugere que 34% fizeram as mesmas ações mas por meio de plataformas e ferramentas digitais. A quarta, que 39% dos adultos entrevistados fizeram algum tipo de atividade política ou cidadã com a utilização específica das redes sociais.

Apesar do efeito democratizante da internet que consta do relatório, a pesquisa também mostra que atividades políticas continuam a ser em boa parte um privilégio de indivíduos com grau de escolaridade mais alto e em situação financeira melhor, no ambiente online ou não. No terreno das redes sociais, no entanto, a disparidade no que diz respeito à renda vem se apresentando mais modesta, mas aquela referente à escolaridade tem se mostrado mais grave que fora da internet.

Ou seja, a se confirmar a tendência de crescimento das atividades políticas online, vem aí, como já se imaginava, mais um problema para a democracia, a exclusão digital. Em especial, para a democracia nos países com baixos índices de escolaridade e pouca qualidade na formação, como o Brasil.

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