sexta-feira, 17 de maio de 2013

Political Journeys II

Reflexões sobre o problema da representação política e as tecnologias digitais.

Um dos problemas mais comentados da teoria contemporânea da democracia é o da representação política. O tema é campo de inúmeras interpretações, dependentes, inclusive, do conceito de representação que se utiliza. Há representação quando se "fala por alguém", quando se "substitui alguém", quando se "atua no lugar de alguém", quando se "atua em nome de alguém", quando se "decide por alguém" etc. Há representação delegativa, deputativa, legal, participativa, responsiva, direta, formal, especial, substancial, simbólica, elitista, descritiva, que proporciona mediação política, relação diferenciada, interação, prestação de contas, autorização, seleção, dominação.

Quando a democracia talvez se encontre no seu melhor momento, parece haver, entre outros problemas, uma crise (de legitimidade?) em torno da representação política nas democracias representativas contemporâneas, alimentada por questionamentos acerca da representatividade dos políticos em relação ao cidadão e à sociedade, que, no Brasil, na maior parte das vezes diz respeito ao Congresso Nacional. Pois, nesse contexto, a teoria faz a pergunta: se a representação é necessária – o que os participacionistas defensores da democracia direta não concordarão –, como fazer para que a representação seja, afinal, mais representativa?

Nesse contexto, um dos problemas mais notórios da democracia representativa brasileira, parece claro, é o descolamento entre o político e o cidadão, com a exceção dos momentos de campanha e eleição. Além disso, como se sugere, há muito pouca transparência e visibilidade pública do que acontece realmente dentro dos espaços (públicos) representativos, herméticos, provedores de informação e linguagem pouco acessíveis. Ao mesmo tempo, há um problema na comunicação pública quando a mídia de massa tradicional, sustentada na lógica comercial e algum problema estrutural, como a concentração, por exemplo, não parece cumprir o papel de mediação que lhe caberia.

Como se não bastasse, os partidos parecem também afastados do cidadão. Poucos se filiam, muitas vezes por não acreditar nos próprios partidos.No mesmo sentido, poucos participam, e as filiações parecem mais sindicatos profissionais de militantes que instituições público-partidárias.

O equívoco, no entanto, é achar que existe um sistema perfeito. A democracia não é e nunca será um sistema perfeito, mas é um sistema que permite às pessoas questionar e modificar o sistema.

No campo da representação, a internet tem sido apontada como um ambiente que apresentaria potencial de intensificar os processos representativos em regimes democráticos, mas é preciso ter em mente que a internet não vai resolver o problema da representação.

Um dos pontos centrais deste debate é o fato de que a representação política é um conceito metafísico, que na maior parte das vezes é pensado a partir de categorias metafísicas. Ora, noções como as de "interesse público", "opinião pública", "interesse do eleitorado", que fariam ligação, ao menos teoricamente, com o representante e suas ações, são conceitos generalizadores, violentos contra identidades, valores e interesses múltiplos que as sociedades contemporâneas abrigam. Talvez seja preciso hoje pensar realisticamente a representação política em um mundo pós-metafísico.

Isso significa refletir a partir do pressuposto de que as categorias não se fixam no tempo – o que foi, já não é mais – e que a representação política é um problema sem solução. O mais importante, na verdade, é que a conversa não seja interrompida.

Como pode contribuir a internet? Talvez a partir da multiplicação de vínculos comunicativos públicos, de preferência não-estatais, entre a sociedade e o representante, com produção de informação política cidadã não-comercial, a criação de espaços deliberativos e argumentativos, o incremento da transparência.

Com relação à visibilidade pública, que se mantém presa aos tradicionais grandes meios de massa, este pode ser um desafio, bem como a ecologica cognitiva da internet e suas limitações sobre a construção das subjetividades.

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