sexta-feira, 9 de março de 2012

Pressão sobre Aécio Neves

Eleição municipal em São Paulo empurra os paulistas para 2018.

Como de praxe, o site britânico openDemocracy encomendou um artigo sobre a recente decisão de José Serra de disputar as eleições municipais em São Paulo e suas consequências para a dinâmica política nacional. No texto, já enviado ao site e que será publicado em breve, foram levantados os seguintes pontos.

Em primeiro lugar, ficou claro, com a interferência direta de Lula no processo de escolha do candidato petista, que o ex-presidente pretende atacar a hegemonia do PSDB em São Paulo. Vale lembrar que, em 2014, Geraldo Alckmin terminará seu primeiro mandato completando 24 anos do partido no governo do estado, podendo ainda concorrer à reeleição. Da mesma forma, todos os grandes adversários do PT nas últimas eleições presidenciais desde 1994 vieram de São Paulo: Fernando Henrique, Serra, duas vezes, e Geraldo Alckmin.

Nesse mesmo contexto, é fácil perceber como o movimento feito por Lula e sua tentativa de angariar o atual prefeito Gilberto Kassab para a campanha de Fernando Haddad, ao fim, foram fundamental para a decisão de Serra. Caso não decidisse pela disputa, o ex-ministro da Saúde do governo FHC poderia vir a ser culpado por uma provável derrota do PSDB na capital econômica do país, o que certamente dificultaria a posição do partido para as eleições de 2014, tanto no nível estadual quanto nacional. Não há dúvidas de que uma vitória do PT em São Paulo colocará a cidade no topo da agenda do governo federal. Vale lembrar, afinal, que Serra venceu Dilma no município em 2010, com 53% dos votos contra 46%. Sua candidatura ao município trouxe de volta Kassab para a órbita do PSDB na cidade e ainda colocou um nome de peso da legenda na disputa, o que não seria o caso se o ex-governador resolvesse ficar de fora.

Serra, de qualquer forma, terá um grande desafio pela frente. Uma pesquisa publicada pela Folha de São Paulo no domingo, 4 de março, mostra que 44% dos eleitores da cidade estão dispostos a votar em quem Lula apoiar e apenas 10% deles sabem, neste momento, que o ex-presidente está por trás da candidatura de Fernando Haddad. Além disso, 66% acreditam que Serra, se eleito, não completará seu mandato, como fez em 2006, quando largou a Prefeitura de São Paulo apenas um ano depois de tomar posse, para concorrer ao governo do estado. Dessa vez, para os entrevistados, o alvo seriam as eleições de 2014 para a Presidência.

Contra Haddad, estão os escândalos no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), durante o período em que foi ministro da Educação, que certamente serão usados contra ele na campanha. Além disso, a interferência de Lula não agradou a militância do partido, que preferia a candidatura da senadora Marta Suplicy. Como se não bastasse, a saúde do ex-presidente anda precária e uma punição perpetrada pela Justiça Eleitoral ao PT suspendeu os programas de TV estadual e nacional do partido no primeiro semestre deste ano, o que prejudica a exposição de Haddad. O petista é conhecido apenas por 44% da população, segundo a Folha. José Serra, por 99%.

Ao fim, os resultados da disputa trarão consequências amplas para a política nacional. Se Serra vencer, o PSDB permanecerá forte em São Paulo e em boa posição para manter o poder estadual. Se Haddad vencer, o PT fortalecerá ainda mais sua hegemonia nacional e terá a chance de finalmente destituir o PSDB do governo paulista em 2014.

No entanto, alguns efeitos podem ser sentidos hoje mesmo. Não há dúvidas de que a candidatura Serra às eleições municipais de São Paulo abriu espaço para o senador mineiro Aécio Neves consolidar seu nome como próximo candidato do PSDB à Presidência. Afinal, se Serra vencer, uma nova renúncia seria considerado suicídio político em sua própria base eleitoral. Se perder, estará muito enfraquecido para disputar a candidatura nacional do partido. Nesse contexto, conta ainda a recente declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmando que Aécio Neves é o "candidato natural" do PSDB na próxima eleição presidencial.

Junto com a oportunidade vem o desafio. Aécio, se candidato, enfrentará uma presidente até agora altamente popular e que não poupará esforços para se reeleger. Dilma Rousseff terminou seu primeiro ano de governo com 59% de aprovação, um índice maior, por exemplo, que o de Lula no primeiro mandato (42%) e no segundo mandato (50%). Além disso, o senador pode ter apenas uma chance. Alckmin e Serra estarão à espreita para 2018, quando o primeiro completará 66 anos. O segundo, 76.

O texto para o site openDemocracy pode ser lido aqui.

2 comentários:

  1. O post me fez sentir muita saudade das aulas do Cesar Romero, Arthur!
    O nome de Aécio está na roda há algum tempo, apesar da pressão do Serra e dos PSDBistas de SP "contra" um candidato de MG.
    Vamos ver o que acontece até 2014. Tem muita água pra rolar ainda...

    Beijos!
    Juliana Oliveto

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  2. Legal, Juh, obrigado pelo comentário e pela leitura. É isso mesmo. A grande questão será o quanto o PSDB paulista irá realmente apoiar Aécio, se ele for candidato mesmo em 2014. Um abraço, Arthur

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