segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Pensadora da crise e de um novo início

Lançado no último dia 22, no Rio de Janeiro, o novo livro de Eduardo Jardim, Hannah Arendt: pensadora da crise e de um novo início, é uma ótima introdução à filosofia de Hannah Arendt, em especial aquela dedicada à política. A obra estabelece um diálogo fundamental entre os escritos da pensadora alemã, a sua vida e o contexto histórico ao redor e é dividida em três partes.

A primeira trata do pensamento de Hannah Arendt sobre as terríveis experiências políticas dos regimes totalitários do século XX. Com base no clássico As origens do totalistarismo, publicado pela primeira vez em 1951, Eduardo Jardim ressalta a noção arendtiana de ruptura. Segundo escreveu o autor, Hannah Arendt mostra em sua pesquisa sobre o totalitarismo que "a situação política na Alemanha de Hitler e na União Soviética de Stalin foi condicionada pela ruína das instituições políticas tradicionais que sustentavam a autoridade política" (p.10). Dessa forma, para a pensadora, "os movimentos totalitários tiveram sucesso porque, como verdadeiros oportunistas, souberam tirar proveito do vazio deixado pela falência da autoridade política" (p.10). Nesse contexto estão temas-chave abordados por Hannah Arendt como a questão da alienação moderna, o problema da consolidação dos "critérios instrumentais" e o uso da solidão pelos regimes totalitários.

Na segunda parte, Eduardo Jardim ressalta a própria visão de Hannah Arendt sobre o que é a política. Nessa seção, o autor ressalta a experiência arendtiana de refletir sobre "o sentido da política", em um momento em que os "horrores do regime nazista e estalinista eram vistos como o resultado da hiperinflação do âmbito político, que motivara a invasão e até a supressão de todas as demais esferas da vida" (p.68). Como escreveu o professor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio, "Hannah Arendt reconhecia que, neste ambiente, a pergunta sobre o sentido da política era formulada de forma muito mais radical e num tom muito mais desesperado do que em outras épocas" (p.69).

Pois Hannah Arendt acreditava que a política tem um sentido, e este sentido seria a liberdade. Não a liberdade negativa do liberalismo que associa a política ao Estado e, assim, procura formas de proteger a liberdade da política. Não a liberdade positiva associada a Marx e Rousseau que vê a política como um instrumento de libertação dos homens na direção da sua plena realização. Mas uma noção de liberdade, vinculada à concepção aristotélica, como "um exercício dos homens em interação, que ocorre quando eles se encontram em posição de igualdade, realizado geralmente em forma discursiva, tendo por pressuposto a demarcação de um ambiente - para os gregos, a pólis" (p.78).

Ainda na segunda parte, Eduardo Jardim trata da teoria da ação de Hannah Arendt. Nesse sentido, o autor apresenta o contraste estabelecido por Hannah Arendt entre o fazer e o agir, "entre o modo de ser previsível do fazer e a imprevisibilidade, até o ponto do milagre, da ação", entre "o modo de intervenção do fazer produtivo", a instrumentalidade do fazer, e o "poder inaugural de inciar processos, característico do agir" (p.85).

Finalmente, na terceira parte, Eduardo Jardim aborda os últimos escritos da pensadora, onde Hannah Arendt estabelece um sentido político para a atividade intelectual, relacionando as atividades do espírito do pensar e do julgar com a ação política.

Apesar do caráter introdutório e da linguagem acessível, Hannah Arendt: pensadora da crise e de um novo início não peca pela superficialidade, mas traz uma reflexão profunda e importante sobre a política. Em meio aos preconceitos alimentados pela corrupção e a instrumentalidade dos objetivos de acesso ao consumo e ao mercado, o lançamento não poderia ser mais adequado.

Leia também neste blog sobre o I Colóquio de Comunicação e Política, "Ficção científica, literatura e a filosofia política de Hannah Arendt", realizado na PUC-Rio, e "Um diálogo entre Hannah Arendt e George Orwell".

Nenhum comentário:

Postar um comentário