segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A vida nos "aglomerados subnormais"

Onde TV, geladeira e celular chegam primeiro.

Divulgado no último dia 6, relatório do IBGE sobre as favelas traz à tona um tema político tão antigo quanto importante, a deficiência na provisão de bens públicos em contraposição aos acessos de consumo na sociedade brasileira. Mesmo que as informações sejam específicas desse tipo de comunidade que, por viver na maior parte das vezes ao redor das grandes cidades, ganha características específicas desse entorno, a conclusão dos resultados é a de que, ao menos nas favelas brasileiras, TV e geladeira chegam primeiro que saneamento, hospital, escolas e, muitas vezes, segurança.

Segundo a pesquisa, realizada sobre o ano de 2010, 6 mil favelas abrigavam no Brasil, na época, mais de 3 milhões de residências e mais de 11 milhões de pessoas, a maior parte no Sudeste. Além disso, as cinco maiores regiões metropolitanas brasileiras concentravam quase 60% dos moradores de favelas. Desse total, 18,9% na Grande São Paulo e 14,9% no Rio de Janeiro e entornos, além de Belém, Salvador e Recife.

A pior disparidade apresentada está, por exemplo, na educação. Nas comunidades analisadas, o índice de uso de creche e escola pública é de 90%, mas apenas 1,6% tem ensino superior. Fora das escolas boas, poucos chegam à universidade. Por ironia, às públicas muito menos.

Como no "asfalto", no entanto, mais de 90% dos moradores de favela têm geladeira e televisão. O uso do celular é intenso. Mais de 50% das residências nessas comunidades têm somente o telefone celular, o índice do lado de fora é de 32,8%. Apesar disso, os números sobre "computador" e "computador com acesso a internet" são quase três vezes menores dentro que fora das favelas.

Essas pessoas, com geladeira, televisão e celular, moram no que o IBGE chama de "aglomerados subnormais", ou seja, "assentamentos irregulares conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas, mocambos e palafitas". Seja onde estiverem, e poderiam ter arrumado um nome melhor, os moradores de tais comunidades teriam por teoria direito a escola, oportunidades iguais, hospital, acesso à justiça, saneamento e segurança, como é devido a todo e qualquer cidadão. Afinal, essas são funções básicas da autoridade política, das quais dependeria sua própria origem e existência. Ou não?

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