Vitória na disputa pela direção-geral da Organização Mundial do Comércio traz a
oportunidade de o país refletir sobre sua inserção no mercado global.
A vitória confirmada na terça-feira (07/05) do diplomata brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo na eleição para o cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio traz, entre outros benefícios, uma boa oportunidade para o país refletir sobre sua inserção no mercado global.
Afinal, por que mesmo queremos um brasileiro no comando da OMC? Este talvez tenha sido um debate abafado pela cobertura da imprensa tradicionalmente ufanista em demasia nesses casos. Ora, entre as 10 maiores nações industriais do planeta
mas com restrições históricas ao comércio internacional, o Brasil participa hoje com menos de 1,5% das exportações mundiais e menos de 1,3% das importações.
Mas não somente o contexto político cultural interno informa os desafios que Azevêdo terá pela frente. Como foi publicado recentemente neste Blog, relatório divulgado há poucas semans pela OMC mostra que o comércio internacional cresceu apenas 2% em 2012 e sua elevação deve ficar pouco acima dos 3% em 2013. Ambos os índices estão bem abaixo da média
dos últimos 20 anos, 5.3%, e mais baixos ainda que o nível médio de
crescimento das trocas internacionais no contexto pré-crise, de 6%,
entre 1990 e 2008.
Segundo a organização, os índices apresentados mostram que os
"problemas estruturais da economia internacional" revelados
pela crise do período 2008/2009 ainda não foram atacados. Na verdade,
seria difícil esperar números muito diferentes quando as grandes nações
comerciais do planeta estão de fato em crise desde então, algumas
delas, como o Japão, por exemplo, há ainda mais tempo. Não à toa, o
primeiro-ministro Shinzo Abe lançou também recentemente mais uma tentativa do
governo japonês, apelidada de "abenomics", de combater 15 anos de recessão e deflação na terceira maior economia do mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, como sugere o relatório da OMC, incertezas renovadas
sobre o euro tiveram impacto sobre as importações da União
Europeia, que se apresentaram em queda em 2012 em relação ao ano
anterior. A Europa, que votou em peso contra o brasileiro, é o maior centro exportador e importador
do planeta. O comércio intra-europeu movimenta mais de US$ 4,5 trilhões
e a UE como bloco ainda negocia externamente outros US$ 2 trilhões.
Chineses vendem US$ 2 trilhões de dólares ao mundo e os americanos, US$
1,5 trilhão. Os Estados Unidos compram mais de US$ 2 trilhões no mercado
global, a China, em torno de US$ 1,7 trilhão.
Nesse sentido, não há dúvida de que a queda no comércio intra-europeu
influenciou os resultados de 2012, como diz o relatório da OMC. Se tudo
der certo, a expectativa é a de que o crescimento do PIB mundial e do
comércio internacional volte à média dos últimos 20 anos somente no fim
de 2014.
"Na medida em que a crise da economia global persiste, pressões
protecionistas ganham força e podem se tornar eventualmente
insuperáveis. A ameaça do protecionismo pode ser maior agora que em
qualquer momento desde o início da crise", afirmou o atual diretor-geral da
OMC, Pascal Lamy, na ocasião da divulgação do relatório e em tom de despedida.
"Para nos prevenirmos de um ciclo autodestruidor de nacionalismo
econômico, os países devem voltar suas atenções para o sistema
multilateral de comércio. O comércio internacional deve ser motor do
crescimento econômico e não termômetro da instabilidade global",
ressaltou.
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