Afinal, apesar dos 800 bilhões de dólares injetados na economia americana desde o início do crash, o problema está longe de ser resolvido. O mercado dos Estados Unidos hoje contrata pouco e consume menos ainda, mesmo com taxas de juros perto de zero. Ao mesmo tempo, o exemplo da Europa alerta para a possibilidade de crises financeiras, geradas pelo descuido dos governos com suas contas. Nesse contexto, o que deve ser feito? Expansão ou reforma fiscal?
No último encontro do G-20, realizado no fim de junho, no Canadá, o discurso geral foi pela reforma. Não houve um consenso claro. Os Estados Unidos, por exemplo, se mostraram mais avessos aos ajustes que os europeus. De qualquer forma, mesmo o presidente Barack Obama chamou a atenção para a importância de uma administração mais cuidadosa da dívida pública.
Para debater o assunto, Farred Zakaria, em seu programa na CNN, entrevistou dois nomes pesos pesados, com visões opostas sobre o assunto: Paul Krugman e Niall Ferguson. O primeiro é prêmio Nobel de Economia. O segundo, professor de história econômica em Harvard e best-seller mundial.
Para Krugman, o governo americano, pelo menos, deve gastar mais, muito mais e rápido. Caso contrário, os Estados Unidos arriscam mergulhar no que ele chama de "terceira depressão", depois de 1929 e 1973. Segundo Krugman, não há outra opção para reaquecer a economia americana, dado que as taxas de juros já estão muito baixas e há algum tempo. Ao mesmo tempo, de acordo com Krugman, um gasto de mais 1 trilhão de dólares, por exemplo, faria uma enorme diferença no mercado sem modificar muito o estado atual da dívida pública americana.
Por outro lado, Ferguson defende que a situação fiscal americana está hoje tão segura quanto Pearl Harbor, em 1941. Ou seja, até o momento em que é atacada. Para ele, depois da Grécia, crises fiscais atingirão os governos de Grã-Bretanha, Espanha e Japão. Paul Ferguson prega uma reforma fiscal "radical", que inclua novas formas de taxação e gastos mínimos, como sugerido também pelo deputado republicano do Wisconsin Paul Ryan. Segundo o professor da Universidade Harvard, os problemas nas finanças internas são o primeiro sinal da decadência de um império.
Sobre o Brasil, o último ranking do FMI coloca o país entre os três maiores devedores do mundo entre os emergentes, apenas atrás de Índia e Hungria, com riscos para o equilíbrio fiscal. A dívida pública brasileira equivale hoje a 67% do PIB. O tamanho da dívida e o nível de taxação sobre o mercado brasileiro, quase 40% do PIB, no mínimo não condizem com a péssima qualidade dos serviços públicos brasileiros, que ainda persiste, bem como com a ignóbil concentração de renda no país, ainda entre as piores do mundo.
Veja o debate entre Krugman e Ferguson na CNN.
Excelente e muito bem balanceada a exposição do "dilema" e os elementos centrais nele articulados. E sobre a situação específica do Brasil, pareceu-me - salvo melhor juízo - que a sua opinião pessoal sobre o Brasil, em que pese apenas implícita, é no sentido da ampliação do gasto (apesar do nível atual da relação dívida-PIB), tendo em vista a necessidade desta iniciativa para ampliação e aprimoramento dos serviços públicos e para ampliação dos programas de distribuição forçada de renda (!!!e olha que nem estamos falando aqui sobre "infraestrutura"!!!)
ResponderExcluirCaro rpmmello,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário. Devo concordar com você que tendo a achar que a ampliação dos gastos é necessária nos países com intenção de retomada do ritmo econômico. Sobre o atual contexto, concordo mais com Krugman que com Ferguson, e isso não tem nada de antiliberalismo, pois Keynes era em essência um liberal. No entanto, não estou certo se o receituário é necessário para o Brasil, que já vem crescendo em ritmo forte, com conseqüências para a inflação e, por conseguinte, a taxa dos juros. Além disso, no caso brasileiro, o que mais me preocupa não é tanto o tamanho da conta, mas a qualidade do gasto. Nós temos uma tradição de altos gastos públicos e talvez seja irreal pensar em um Brasil de governo enxuto. No entanto, também temos uma tradição de gastar mal e isso, ao meu ver, traz muitos problemas para o país. Entre eles, a violência, a concentração de renda, o clientelismo, a ineficiência etc. Um abraço e mais uma vez obrigado,
Arthur